25/01/2010

Devilish


Passavam das três da madrugada, de um domingo para uma segunda e eu contava o tempo para acordar em um outro dia. Tinha escrito como um animal insano em cima de um teclado cansado de trabalhar e toda a minha energia lógica tinha sido drenada de mim pra fora, rápido demais.
Ao meu lado, ele se agitava em uma semi inconsciencia durante a minha crise-existencial-sem-fim;
Eu pensava o quanto poderia ser fraca em determinados momentos e me deixar levar pela correnteza sem lutar. Como eu poderia desistir rápido ás vezes. Não conseguia definir se isso era bom ou ruim ou mesmo se era real. Eu estava confusa. Pensei que em minha mente eu fantasiava há muito tempo que ainda tinha 17 anos, mas isso fazia tanto tempo... Quando era meu aniversário?
Ouvi a respiração dele ficar mais leve, e ouvi a voz dele me chamando. Respondi. Ele passou a mão no meu rosto. "Tá chorando?" e eu disse "Não é nada", porque meu "nada" é cheio de tudo e de muitas outras coisas.
Me aconcheguei nos seus braços e através da penumbra do quarto vi que ele também tinha os olhos abertos pro teto.
"Quantos anos eu tenho?"
"?!"- ele com a voz rouca de não ser usada.
"Quantos anos eu tenho?" - falei devagar pra não chorar.

Apenas dois segundos ou menos se passaram até que ele me respondesse.

"Mais do que eu;" - Ele disse sem hesitar.

Eu ri.
Claro, talvez eu fosse mais velha pra ele do que me parecia. E eu que vejo estampado em meu espelho o mesmo rosto de quatro anos atrás e penso exatamente as mesmas coisas; E eu o vejo realmente mais novo, uns oito anos ou talvez quase isso. E o trato como eu havia prometido á mim mesma não tratar: como um filho ou um irmão. Com o amor de amante e a justiça que ele não merece.
Porque ele é isso, uma pessoa que dependerá discretamente de mim mesmo que eu não note e que será meu mais fiel devoto. Eu que penso que isso é realmente ridículo e injusto. Mas então eu vejo novamente que o mundo não é o que poderia ser se todos fossemos independentes, o mundo não é nem um pouco justo e a gente nada contra a corrente porque um dia alguém determinou que tinha que ser assim.

Depois de um tempo eu continuei fitando o infinito do escuro. E divaguei.

"Tu é mais inteligente que eu." - Ele riu. "Claro que é. Eu não estaria contigo se não fosse tão inteligente. E tu é esperto, esperto como um diabo. E se tu não fosse esperto entao eu não gostaria de ti, porque tu seria uma pessoa absolutamente monótona. Cara, tu seria muito chato se não fosse esperto. E tudo o que tu passa para as pessoas passa reto por mim porque eu não te subestimo. Eu não te subestimo, sabe. Eu sei o quanto tu é aquilo que tu não mostra e é disso que eu gosto. Porque as vezes tu me fala alguma coisa e me testa, porque tu é um desafio pra minha mente estranha e incansável. Porque tu é um dos poucos que me faz pensar de longe, e eu tento entender o que eu sou pra ti e me coloco em cada esquina, pra tentar te entender também."

Ele, que não consegue fazer compras sozinho, que precisa que alguém controle o horário do remédio, que não se alimenta sem que um prato esteja servido na sua frente, que é cinco anos mais velho do que eu no papel e reais oito anos mais novo que parece. Ele que é esperto e subversivo como um demônio.

Que me ama, mesmo que do jeito dele.
E que continua sendo uma grande incógnita na minha cabeça insana.

2 comentários:

  1. "eu pensava o quanto poderia ser fraca em determinados momentos e me deixar levar pela correnteza sem lutar..."


    isso acabou comigo.
    hoje você foi meu espelho.
    me refletiu de uma intensidade
    dolorosa enquanto as lágrimas
    caiam. é isso.

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