26/07/2009

Blackjack

Nota mental: É claro que Pan não deixaria de vir. Ouço ele cantando e dançando e ruidosamente batendo os cascos no piso do meu quarto propositalmente roxo. Seja bem-vindo, criança.



Não me culpo mais por querer tudo de volta. Mas sei que é uma atitude egoísta querer que as coisas voltem como eram antes, eu mudei, nós mudamos.
Preciso de contato. Preciso saber que estão bem... e bem... achei que essa seria mais uma noite em que eu estaria vigiando o coma pesado da personificação de tudo o que eu prezo... onde ele estaria respirando pesadamente enquanto eu estaria contando seus fracos batimentos cardiacos ao lado da cama asséptica. É claro, eu assinei os papéis para deixá-lo ali, sedado, parado no tempo, mas não consegui. Foi uma atitude responsável, but i don't want this anymore. Not for me.
Quis mover seus dedos, aumentar seus batimentos cardiacos, fazer sentir medo, ódio, angustia, alegria, qualquer coisa... Quis fazê-lo sentir, reagir. Com os meus lábios indecisos beijei o contorno do seu queixo e seus lábios mornos. Ouvi sua respiração pesar vagarosamente, e seus olhos ônix abrirem diretamente na minha direção.
Houve um baque surdo na minha mente. Eu podia movê-las. As montanhas, e eu faria chover nelas. E as flores, eu faria brotá-las do chão e encher o ar com cores.

Eu tive muito medo, um medo primitivo. E ainda sinto que poderia ter perdido vocês dois porque não fui rápida o suficiente, porque fui cega demais, porque acreditei que seria possivel esquecer, mudar minha vida, meu endereço, meu telefone e meu corpo para que ele fosse menos receptivo à coisas que me deixam tão frágil.

Preciso vê-los, preciso provocar a tempestade em mim, preciso provar pra mim mesmo que é possivel. Ou que definitivamente, meses de loucura não valeram de nada. Preciso definir a faixa que determinou o fim (ou o começo de tudo).



Bem... Meu nome é Jéssica. Fiz 21 anos, mas parei de contar intelectualmente quando ainda tinha 17. Trabalho numa multinacional há quase um ano, mas isso pra mim quase não faz diferença. Não faço o que gosto, mas acho que gosto do que eu faço. Coloquei aparelho ortodontico à quase oito meses. Me sinto portando uma armadura medieval dentro da boca.
Fui uma boa menina esses ultimos tempos: comprei um carro, mantive um relacionamento de mais de um ano, chorei o bastante para aprender que esse tipo de coisa só se faz escondido caso não queira chocar as pessoas. Adquiri medo de andar de moto, mas é quase como ir contra meus instintos. Enquanto eu ando é como se eu tivesse 152 pessoas gritando na minha cabeça "Pare a moto agora! você vai se matar!", mas eu aprendi a me divertir com esses avisos.
Não bebo há muito tempo, não lembro qual foi a última vez que fiquei bêbada de verdade. de repente, beber virou algo que eu faço pra voltar no tempo ou simplesmente não me importar com que os outros irão pensar de mim quando me virem chorando. Aliás, eu aprendi a chorar sem fazer careta. Me faz parecer menos dramática.
Eu ainda sou dramática, muito. E agora, quando me canso, eu só fico mais e mais complacente (embora ache que sempre fui assim, agora eu achei um nome pra isso).
Ainda danço pra externar a dor, a tristeza, a frustração... E é como drenar um vulcão.
Tenho feito menos passeios, tenho saido menos. Não me importo de permanecer ao seu lado como mais uma. Temos vidas paralelas, o mundo não parou de girar. Não me importo... Desde que eu esteja lá, não pode doer mais do que já dói ou doeu... Alimentar amor com loucura já foi doloroso bastante pra que durasse tanto mais tempo. Preciso alimentá-lo com fogo.
Todos os dias penso em vocês. São coisas pequenas - Como eu gostaria que eles estivessem aqui comigo; Como eu gostaria que ela visse isso; Como esse lugar seria mais divertido com ele. Ainda amo vocês e a intensidade ainda é a mesma... Afinal o ódio nunca foi o contrário do amor, só um irmão destrutivo...
Sempre tive medo de sentir a indiferença. Em meus pesadelos com vocês, meu maior medo estava lá... Em um dado momento eu não sentia nada e ia embora, como se não conhecesse vocês, totalmente chocada com o que havia acontecido e diversas perguntas vagueavama minha mente: "Por que? Amor? Alegria? Frustração? Medo? Ódio? Alguma coisa? NADA? SIMPLESMENTE NADA?"
Eu ainda vou ser a criança com cabeços dourados, visitando o imaginário de um parque de diversões, mas se me virem de perto ainda estarei esquiva, porque as queimaduras ainda doem e nada volta de uma hora pra outra. Estou consciente de que não somos os mesmos, não por fora.

Não lembro do tom de voz de vocês. Eu lembro do calor das vozes, mas não do tom. It makes me sad.

Eu lembro um dia em que ela foi à minha casa e disse que éramos estranhas uma para a outra, outras pessoas. eu ainda me recuso a não enxergar vocês dentro disso tudo que a gente se tornou. Eu quero lutar, foda-se o mundo, eu quero lutar mais uma vez. Eu quero enlouquecer de vez ou colocar tudo no lugar, meu Deus, como eu quero!

Preciso de contato crianças. Um telefone, um e-mail ao qual ainda usem, msn, horários.
Ainda vamos nos ver de perto antes que tudo acabe?

20/07/2009

Declaração

Veio como uma pontada aguda no meio do meu peito. De repente eu perdi o ar e ouvi minha voz assobiar dentro do meu peito arfante. Uma segunda-feira cansativa, normal como todas as outras, meus pais abafados no sofá, olhando um filme qualquer, preocupados com alguma coisa enterrada em suas mentes, cada um de nós em seu mundo particular. Veio como uma apunhalada no meio das minhas costelas, entrecortou rápido, me tirando o ar por um espaço que eu não esperava sentir.
Descobri que tenho medo de morrer, medo da dor, do óbvio, medo de um monte de coisas. Medo do futuro, de não ter tempo (o tempo, o tempo que nunca é o suficiente), assuntos inacabados, ter medo de não ter dado abraços suficientes, beijos, palavras... De ter me deixado levar por pirraça, por bobagens e ter soterrado o que mais importava, o amor que eu sinto pelas pessoas que por mais que me machuquem eu sempre vou sentir. Eu sou burra demais pra odiar alguém pra vida inteira. Eu sempre me encontro em um beco, no escuro do meu quarto frio, abafada em um monte de travesseiros e nunca o suficiente... Digo pra mim mesmo "Eu sou uma idiota não sou? Por levar as coisas a serio demais, por observar de menos, por planejar muito, por viver pouco"
Ah meu Deus, um surto psicótico de amor absurdo por todas as coisas, por todo o mundo. Eu escreveria cartas quilométricas sem ler a frase anterior.


Wagner, seu idiota, eu te amo, e ainda que tenha me sentido profundamente machucada por tudo o que aconteceu, como uma ferida, você ainda tem um lugar aqui dentro. Isso ainda não faz você parecer menos culpado, mas demonstra o que todo mundo que fica perto de mim sabe: eu nunca te esqueci. Meu silencio ocorre sem querer... Às vezes só acho que ainda estou me recuperando de algum acidente absurdo, um baque que acabou com metade do meu cérebro aos poucos. Ainda te vejo com 7 anos, brincando aos meus pés, eu, a irmã mais velha.

Marlon. Meu beco favorito. Minha concepção de lugar seguro. Um lugar onde eu posso me esconder quando eu estou com medo. Uma pessoa que certamente acha todos os meus surtos a coisa mais assustadora do mundo. Sim, eu me importo com tudo isso, me importo com você, com seu futuro e se eu vou ter um lugar nele: como uma história, como uma mágoa, raiva, como uma piada. Queria saber o que você estava pensando quando disse que nunca amou ninguém, queria esquadrinhar cada pedaço ínfimo do seu passado pra descobrir uma só fraqueza e ter a certeza de que você é meu assim como toda a minha vida, cada pedaço meu é seu. De uma forma que só eu entendo, com os presentes que só eu dou... Todos os dias e noites eu te dou um pedaço de mim, um pedaço pequeno. A página de um livro. Um bilhete. Você já tem tudo o que eu senti até agora, se não juntar as mãos pra segurar o resto, meus pedaços irão cair no chão, transbordantes. Um ano e meio e você ainda é um ponto de interrogação piscando no fundo da minha mente. Às vezes tenho vontade de te pegar pelos ombros e sacudir: "Você está realmente aí?" - Não com raiva, mas com uma preocupação contida. Gosto de ti porque você tem qualidades. Te amo porque você tem defeitos.

Sami. Ainda penso no que poderia ter acontecido, ainda me sinto culpada por muitas coisas, ainda tenho guardadas no minimo três possibilidades nas mangas do porquê do desfecho pragmático que as coisas tiveram. Hoje eu admito pra quem quiser ouvir: "É um câncer, me matando, uma doença forte, uma tempestade, se alastrando todos os dias em mim. O que mais dói é não saber o final disso, saber quanta dor eu ainda vou sentir, quanto disso ainda vou ter que tomar. O que eu já aceitei é que vou morrer disso, por escolha. Parei com os analgésicos, pedi alta, vou pra casa conviver com tudo isso até que acabe (?)" Eu te amo com muita força. Com ciúmes, com obsessão tal que eu consegui esquecer os momentos ruins disso tudo. Eu sou uma viciada, como muitos outros que eu vejo por aí. Eu vejo os outros viciados por aí.
Sinto dor, mas não sei de onde vem. Às vezes só acho que ainda tenho alguma sanidade e que ela tenta cada vez mais desesperadamente encontrar um motivo pra disparar um alarme cada vez que eu ameaço ter uma recaída. A dor não tem fundamento, é só uma ferramenta de auto-proteção. O amor também, por isso eu acho que eu estou desenvolvendo algum tipo de autismo. Um mundo em que eu imagino coisas, uma bolha. Uma rua pavimentada de cinza, molhada com chuva em que eu olho através de uma vitrine a vida que eu gostaria de ter. A minha dificuldade é saber se eu estou olhando para dentro da loja, ou para fora do meu mundo em que eu sou a única personagem.
Eu fico preocupada quando não ouço mais falar de você, quando você foge (eu sei que ainda foge), quando as pessoas começam a te procurar. Eu estou ali, àvida pra saber mais, pra aspirar a última carreira. O resto das pessoas parecem poder esperar, você é a pessoa mais frágil que eu conheço. Me sinto chateada por não fazer parte de tudo isso, como se eu estivesse perdendo uma parte da minha vida. Eu procuro desesperadamente fatos que me garantam que você ainda vai bater na minha porta, dois dias antes do aniversário de um ano da minha primeira filha e vai reclamá-la.
Aliás, eu ainda acho que fiquei com a parte chata da festa, a parte de limpar o salão, de enviar os bebados pra casa, de limpar os copos cheios de bebida quente. Preciso ser menos responsável.
Esses dias, persegui mais de meia hora um cheiro em Porto Alegre. Porque me lembrava sua casa, seu quarto, o cheiro dos seus cabelos. Uma cópia identica que me fez eu me perder esses dias por aí. A pior parte é que isso se repete de tempos em tempos e eu realmente não sei o que eu estava esperando encontrar se simplesmente achasse a origem do cheiro;

Vô, eu te daria um bilhão de bisnetos se isso fosse fazer o senhor entender que simplesmente uma parte de mim vai com o senhor quando for embora. Ainda assim, todos os eu-te-amos, todas as fotos e videos que eu eu gravo das suas canções pra mim não parecem ser um porcento do que seria suficiente para que eu aceite que um dia todos nós vamos morrer. Que todos vamos sentir saudades, que as pessoas vão sentir saudade da gente e isso vai se repetir e se repetir. O tempo nunca é o suficiente.

Mãe e pai, crianças como eu. A diferença é que um tem o outro pra segurar as pontas quando as coisas chegam ao extremo. Já faz algum tempo que eu não me sinto mais uma parte de tudo isso, mas acho que foi de maneira natural, como se eu já esperasse por isso no fundo da minha mente. Temos que criar os filhos pro mundo. São a imagem do companheirismo, não daquela coisa enfadonha de pra sempre, mas é como eu imagino que os casais devem ser: pilares um pro outro, se um ruir, o outro está lá pra segurar.

Amo todos vocês, cada um de uma maneira diferente e totalmente nova. Tenho medo de que não entendam isso, ou entendam tarde demais. Tenho medo de vê-los mortos antes que saibam do tamanho do meu amor.
Eu tenho energia suficiente para preencher um milhão de poços, para transbordar os cinco oceanos, para soterrar todos os continentes. E isso ainda assim não é o suficiente.


O oxigênio que me mantém viva é o mesmo que me mata.


Declaro que eu realmente não to mais nem ai pro que as pessoas possam pensar disso. Com certeza não vai ser pior do que eu já penso de mim mesma.

Declaração

Veio como uma pontada aguda no meio do meu peito. De repente eu perdi o ar e ouvi minha voz assobiar dentro do meu peito arfante. Uma segunda-feira cansativa, normal como todas as outras, meus pais abafados no sofá, olhando um filme qualquer, preocupados com alguma coisa enterrada em suas mentes, cada um de nós em seu mundo particular. Veio como uma apunhalada no meio das minhas costelas, entrecortou rápido, me tirando o ar por um espaço que eu não esperava sentir.
Descobri que tenho medo de morrer, medo da dor, do óbvio, medo de um monte de coisas. Medo do futuro, de não ter tempo (o tempo, o tempo que nunca é o suficiente), assuntos inacabados, ter medo de não ter dado abraços suficientes, beijos, palavras... De ter me deixado levar por pirraça, por bobagens e ter soterrado o que mais importava, o amor que eu sinto pelas pessoas que por mais que me machuquem eu sempre vou sentir. Eu sou burra demais pra odiar alguém pra vida inteira. Eu sempre me encontro em um beco, no escuro do meu quarto frio, abafada em um monte de travesseiros e nunca o suficiente... Digo pra mim mesmo "Eu sou uma idiota não sou? Por levar as coisas a serio demais, por observar de menos, por planejar muito, por viver pouco"
Ah meu Deus, um surto psicótico de amor absurdo por todas as coisas, por todo o mundo. Eu escreveria cartas quilométricas sem ler a frase anterior.


Wagner, seu idiota, eu te amo, e ainda que tenha me sentido profundamente machucada por tudo o que aconteceu, como uma ferida, você ainda tem um lugar aqui dentro. Isso ainda não faz você parecer menos culpado, mas demonstra o que todo mundo que fica perto de mim sabe: eu nunca te esqueci. Meu silencio ocorre sem querer... Às vezes só acho que ainda estou me recuperando de algum acidente absurdo, um baque que acabou com metade do meu cérebro aos poucos. Ainda te vejo com 7 anos, brincando aos meus pés, eu, a irmã mais velha.

Marlon. Meu beco favorito. Minha concepção de lugar seguro. Um lugar onde eu posso me esconder quando eu estou com medo. Uma pessoa que certamente acha todos os meus surtos a coisa mais assustadora do mundo. Sim, eu me importo com tudo isso, me importo com você, com seu futuro e se eu vou ter um lugar nele: como uma história, como uma mágoa, raiva, como uma piada. Queria saber o que você estava pensando quando disse que nunca amou ninguém, queria esquadrinhar cada pedaço ínfimo do seu passado pra descobrir uma só fraqueza e ter a certeza de que você é meu assim como toda a minha vida, cada pedaço meu é seu. De uma forma que só eu entendo, com os presentes que só eu dou... Todos os dias e noites eu te dou um pedaço de mim, um pedaço pequeno. A página de um livro. Um bilhete. Você já tem tudo o que eu senti até agora, se não juntar as mãos pra segurar o resto, meus pedaços irão cair no chão, transbordantes. Um ano e meio e você ainda é um ponto de interrogação piscando no fundo da minha mente. Às vezes tenho vontade de te pegar pelos ombros e sacudir: "Você está realmente aí?" - Não com raiva, mas com uma preocupação contida. Gosto de ti porque você tem qualidades. Te amo porque você tem defeitos.

Sami. Ainda penso no que poderia ter acontecido, ainda me sinto culpada por muitas coisas, ainda tenho guardadas no minimo três possibilidades nas mangas do porquê do desfecho pragmático que as coisas tiveram. Hoje eu admito pra quem quiser ouvir: "É um câncer, me matando, uma doença forte, uma tempestade, se alastrando todos os dias em mim. O que mais dói é não saber o final disso, saber quanta dor eu ainda vou sentir, quanto disso ainda vou ter que tomar. O que eu já aceitei é que vou morrer disso, por escolha. Parei com os analgésicos, pedi alta, vou pra casa conviver com tudo isso até que acabe (?)" Eu te amo com muita força. Com ciúmes, com obsessão tal que eu consegui esquecer os momentos ruins disso tudo. Eu sou uma viciada, como muitos outros que eu vejo por aí. Eu vejo os outros viciados por aí.
Sinto dor, mas não sei de onde vem. Às vezes só acho que ainda tenho alguma sanidade e que ela tenta cada vez mais desesperadamente encontrar um motivo pra disparar um alarme cada vez que eu ameaço ter uma recaída. A dor não tem fundamento, é só uma ferramenta de auto-proteção. O amor também, por isso eu acho que eu estou desenvolvendo algum tipo de autismo. Um mundo em que eu imagino coisas, uma bolha. Uma rua pavimentada de cinza, molhada com chuva em que eu olho através de uma vitrine a vida que eu gostaria de ter. A minha dificuldade é saber se eu estou olhando para dentro da loja, ou para fora do meu mundo em que eu sou a única personagem.
Eu fico preocupada quando não ouço mais falar de você, quando você foge (eu sei que ainda foge), quando as pessoas começam a te procurar. Eu estou ali, àvida pra saber mais, pra aspirar a última carreira. O resto das pessoas parecem poder esperar, você é a pessoa mais frágil que eu conheço. Me sinto chateada por não fazer parte de tudo isso, como se eu estivesse perdendo uma parte da minha vida. Eu procuro desesperadamente fatos que me garantam que você ainda vai bater na minha porta, dois dias antes do aniversário de um ano da minha primeira filha e vai reclamá-la.
Aliás, eu ainda acho que fiquei com a parte chata da festa, a parte de limpar o salão, de enviar os bebados pra casa, de limpar os copos cheios de bebida quente. Preciso ser menos responsável.
Esses dias, persegui mais de meia hora um cheiro em Porto Alegre. Porque me lembrava sua casa, seu quarto, o cheiro dos seus cabelos. Uma cópia identica que me fez eu me perder esses dias por aí. A pior parte é que isso se repete de tempos em tempos e eu realmente não sei o que eu estava esperando encontrar se simplesmente achasse a origem do cheiro;

Vô, eu te daria um bilhão de bisnetos se isso fosse fazer o senhor entender que simplesmente uma parte de mim vai com o senhor quando for embora. Ainda assim, todos os eu-te-amos, todas as fotos e videos que eu eu gravo das suas canções pra mim não parecem ser um porcento do que seria suficiente para que eu aceite que um dia todos nós vamos morrer. Que todos vamos sentir saudades, que as pessoas vão sentir saudade da gente e isso vai se repetir e se repetir. O tempo nunca é o suficiente.

Mãe e pai, crianças como eu. A diferença é que um tem o outro pra segurar as pontas quando as coisas chegam ao extremo. Já faz algum tempo que eu não me sinto mais uma parte de tudo isso, mas acho que foi de maneira natural, como se eu já esperasse por isso no fundo da minha mente. Temos que criar os filhos pro mundo. São a imagem do companheirismo, não daquela coisa enfadonha de pra sempre, mas é como eu imagino que os casais devem ser: pilares um pro outro, se um ruir, o outro está lá pra segurar.

Amo todos vocês, cada um de uma maneira diferente e totalmente nova. Tenho medo de que não entendam isso, ou entendam tarde demais. Tenho medo de vê-los mortos antes que saibam do tamanho do meu amor.
Eu tenho energia suficiente para preencher um milhão de poços, para transbordar os cinco oceanos, para soterrar todos os continentes. E isso ainda assim não é o suficiente.


O oxigênio que me mantém viva é o mesmo que me mata.


Declaro que eu realmente não to mais nem ai pro que as pessoas possam pensar disso. Com certeza não vai ser pior do que eu já penso de mim mesma.

11/07/2009

So many things

Disse pra mim mesma que eu não precisaria ser coerente, não hoje, não agora em que grito neste poço sem fundo até que ele transborde.
Então, se eu ler isso amanhã ou depois, não vou precisar entender. Estou cansada de analisar as coisas como em um tabuleiro de xadrez.


Me sentei na cama morna, meio perdida na semi inconscienência que eu tanto gosto. Levei as mãos aos olhos para que eles não se abrissem, porque queria guardar aquele momento por mais alguns segundos dentro da minha mente, para que não se perdesse.
Sinto uma mão no meu ombro, puxando para que eu me deitasse de novo, "Ainda não está na hora Jess."
Eu não queria que ele me interrompesse e as imagens se desfariam como névoa. Mas não. Elas não se desfizeram. Era um sonho bom demais para que se fosse tão rápido. Sorri no escuro com a idéia tão perfeita. Um sonho que eu pudesse guardar enquanto vivesse, aqui, em mim.

"Eu andava em uma casa familiar, luz morna, mas na rua a claridade das quatro da tarde era interrompida por uma atmosfera de chuva. O tempo agradável, mas sabiamos que iria chover.
Saimos as duas de casa, de pés descalços, de mãos dads, ela me puxando. Perguntei à ela se não iria fechar a casa antes de sairmos. Ela respondeu 'Não. A casa está protegida'; eu a questionei. 'Tenho uma adaga no meu coração'. Não entendi, mas ela me puxou pelas ruas úmidas, de terra fofa. Me lembro quando a chuva começou a cair e as pessoas corriam para se proteger, mas nós ficamos lá e tudo era muito real. De maneira lógica eu via tudo. De uma maneira fria, sentindo as coisas como elas eram, por um pouco mais de dez segundos, eu tive olhos reais e fiquei paralisada ali, como se o tempo tivesse simplesmente parado.
Eu vi as gotas cairem uma-a-uma, como em camera lenta, tocarem a minha pele e acompanhei cada reação de cada centimetro da minha pele ao sentir a àgua ínfimamente fria.
Eu estava feliz, eu estava simplesmente radiante, eu estava tão bem que poderia sair de mim e nunca mais voltar, eu estava pronta pra ficar, ali, sabendo que era um sonho. Eu estava pronta pra ter o inevitável. Eu estava pronta para aceitar que se amanhã ou depois eu morresse, não faria diferença, porque em minha mente eu era completa.
E foi assim. Eu ainda sentia a mão dela na minha, e nossas peles eram mornas, porque ela havia pego um pouco do meu calor para se sentir humana."



Eu não iria escrever isso aqui.
Mas me sinto tão infeliz com tudo isso que milhares de caixas de pensamentos não iriam bastar. Eu escreveria até que as minhas mãos caíssem, até que as caixas acabassem, até que as pessoas ao meu redor secassem e eu ainda não teria despejado metade dos pensamentos ali.
Às vezes eu só preciso sair do controle, sair de mim. Em um mundo seguro que me encontro, as coisas que eu faço são tão previsiveis que eu implodo todos os dias. Esqueci que meus sentimentos poderiam ser tão destrutivos comigo mesma e com as pessoas à minha volta. Muitas coisas assim ainda estão por vir.

Preciso enlouquecer, fugir, ser irresponsável, nua de mim mesma. Preciso parar de me impor tantas coisas, preciso ser mais simples com tudo. Para voltar na segunda-feira a ser a boa e velha Jéssica de novo.

02/07/2009

Tea Time

Ele fuma seus cigarros baratos, meu nariz arde em pensar e aspirar seu hálito. Tira fotos de tudo que acha que pode sentir, sente tudo e registra um após o outro. Lapsos de sua vida, que assim como os livros que lê, cheios de rabiscos disformes e anotações.
Li aguns de seus poemas. Medíocres. Uma máscara feita de sonhos, como os meus. Medíoires em uma dose de igualdade com encanto e devaneio.
Se ele mente, porque não posso tornar realidade? Falo para ele que mentir vicia. Um silencio ao meu lado após uma longa conversa de um tom só e ele me diz que não pensa em nada. Sua cabeça vazia, reflete o que eu já sabia.
Coço com o dedo indicador uma de minhas 20 testas, pensativamente. Faço uma pausa dramática e encosto a mão aos poucos na parede, para sentir sua pulsação fria. Tenho saudade dessa sensação, abraços de concreto, como uma boneca de plástico.
Abro um de seus livros favoritos. Não há mais capa. "É mais fácil julgá-los assim".
Eu olho para ele e ele é envolto em uma espessa bruma esbranquiçada, sinto aquele cheiro de novo. Seu sorriso é cheio daquela ilusão que ele gosta de usar.
"Eu consigo compará-los a cada um de nós. Você por exemplo. Está na página 46."
Penso que o personagem da página 46 não se parece comigo. Ele diz que para ser igual, bastava ter meu nome. Discordo. Ele me beija como uma criança. "Agora sim, você é identica."

E discursa apaixonadamente:
"Os livros são como pessoas; Pessoas limpas, sem marcas ou arranhões são pessoas de pouca vida. Pessoas assim não me inspiram. Prefiro livros de sebo, com marcas de dedo, manchas de café, rabiscos, anotações, dedicatórias, cheiro de pele. Têm história; quantas noites seu antigo dono passou à entrar por aquelas páginas, passou os dedos pelas mesmas letras, riu ou simplesmente desdenhou cada palavra?"
Ele era quase meu oposto, uma dádiva divina para meus olhos marejados. Ele era meu sol particular, minha dose de adrenalina, cocaína, anfetamina. Naquele momento, mas só naquele pequeno instante eu me amei por estar ali, embriagada, podendo ouvir cada palavra e respirar cada uma de suas idéias;

Quando veio se despedir, já era quase de manhã. Como última resposta, questionei sobre sua citação favorita. Ele olhou para a porta, apagou o cigarro no chão e andou em direção à saída. Parou ali e com seus olhos fixos em mim, disse:

"E de repente o silêncio,
Com os passos da ilusão
Perseguem a criança-sonho
Pelas terras da invenção,
Falando a seres bizarros...
Uma verdade, outra não."

Ainda pude escutar sua voz de longe, terminando de citar Lewis Carroll, mas me parecia doce demais para ser real. Antes de amanhecer ainda tive tempo de pensar:

"Talvez eu volte à vê-lo. Talvez na hora do chá."