07/01/2017

Play melancholy song



Há algo desconectado, como se eu pudesse sentir os fios soltos nas minhas mãos, fios sem vida, que eu tento separar de um bolo amorfo que na minha lembrança juntava diferentes partes do que eu acho que eu era.
A lembrança do que eu era, algo muito mais concreto do que era quando eu era e eu não era nada. Há sempre esse lugar pra me lembrar que a ideia de que eu um dia fui uma unidade não significa nada mais do que algo que eu acho que existiu. Uma unidade nunca existiu em mim. Eu sinto falta de algo que nunca aconteceu: unidade.
Eu sempre fui separada, jogada por aí, um tanto espalhada, amorfa, pedaços desconectados, uma cabeça cortada separada de um torso muito longo e pernas muito densas repousando em cada canto da sala, procurando sem solução voltar a uma unidade que nunca existiu, procurando a solução dentro dos braços de outra pessoa, dentro da ideia de que minha existência seria possível dentro de um lugar chamado amor. Um amor que nunca vai ser suprido, porque não existe. A ideia de amor romântico, my dear one, é tão somente uma ideia quanto é a minha ilusão de unidade. O amor não é um lugar, o amor não é o que vai me consertar, o amor é uma ideia. O amor é um buraco onde eu ponho coisas que eu acho que não mereço. O amor é o abismo que me observa e me desafia. Eu rio dele e tudo que eu ouço é o eco da minha própria risada, rindo de mim.
Me pergunto onde eu encontro minha plenitude? Onde eu posso só respirar e ser, um lugar pra pendurar minhas inseguranças do lado de fora, um lugar pra rir das minhas paranoias, um estado de expansão da alma. Há uma fórmula sem solução, não meramente matemática, mas muito mais profunda em mim, algo que envolve braços e mãos e um corpo que parece sempre pequeno demais pra conseguir me envolver por completo.
Me pergunto se isso que me venderam como amor é essa plenitude que eu procuro. Me pergunto se é isso que eu devo sentir. Me pergunto se é isso que eu devo procurar.