20/07/2016

Já é de manhã

Antes eu achava que a dor não era natural. Apertava meu peito como se alguém tivesse chutado meu esterno com botas de combate, doía como se eu tivesse três ou quatro costelas quebradas, uma dor persistente, latejante, debilitante. Eu até hoje não sei como conseguia ainda respirar. Doía demais.
O problema é que ainda dói. Mesmo depois dos remédios, mesmo depois da terapia, mesmo depois de passar por todos os altos e baixos da montanha russa que se tornou minha vida, ainda dói. Mesmo depois de falar sobre isso, de praguejar, de chorar e gritar desesperadamente sobre isso até que as veias do meu rosto estourassem. Às vezes eu me pego pensando que essa dor sempre fez parte de mim e isso me deixa aterrorizada. Essa é a minha dor. Ela nasceu comigo. Em maior ou menor escala ela vai morrer comigo.
Ou não?
Como se conserta um coração mil vezes partido e mil e uma vezes remendado? Como cicatrizar as fibras do coração, fazer com que elas se entrelacem entre uma batida e outra, fazer com que tudo volte a ser como era antes?...



Antes de que?
Se o meu coração se parte e se junta e se estilhaça e se emenda desde que eu me lembro? De diferentes maneiras, sendo chutado, sendo pisado, sendo apertado entre dedos desonestos ou por perdas irreparáveis, esquecimentos, substituições, raiva, impotência, ciúmes e inveja.
Como aceitar o amor se ele vem com um preço? Como amar se isso me traz dor? Como aceitar ser amada se isso se torna um fardo?

Quanta terapia é necessária para curar o medo da dor?
Quanta terapia é necessária para curar o medo?
Quanta terapia é necessária para curar?