18/09/2020

Causas e tropeços

Em algum momento eu quis isso pra me sentir viva - a paixão. Acordar com uma mão ao redor do meu coração apertando-o conta a vontade, me fazendo suspirar, sorrir, corar. Entretanto isso veio do lugar errado porque não passa de projeção e fala tão alto sobre a minha solidão que o simples existir vai contra a razão.

Há alguns dias atrás um amigo me disse - entre outras coisas -  que eu era demais para ser tratada como uma fantasia e que eu "merecia mais", que eu merecia alguém que estivesse ao meu lado e me apoiasse 100% e isso não era pedir demais. Tenho pensado nisso desde então e quanto mais penso sobre isso - ao contrário do que eu imaginei - mais doente me sinto. Mais apaixonada por alguém que não existe eu fico e maior a frustração se torna.

Veja bem, há toda essa energia projetada em uma mera ideia de alguém que serve somente como receptáculo de uma frustração conhecida. É seguro gostar de um personagem porque toda frustração que existe em uma "relação" assim já é conhecida. Direciono meu sentimento pra um fantasma porque - a despeito da costumeira não reciprocidade - ele não pode me machucar, nem machucar ninguém por minha causa. Não há dor além da que eu posso controlar. Meu subconsciente parece ter feito às pazes com a ideia de que é muito melhor sofrer um amor impossível do que talvez se machucar por algo real. A pessoa que eu amo não pode me rejeitar se ela não existe, a lógica parece impecável.

Há, no entanto uma segunda dor crescendo ao mesmo tempo, perigosa e silenciosa. Me faz sentir um pouco menos humana, lutando pra recuperar o amor próprio e a dignidade: eu sinto que desapareço um pouco a cada dia que não sou tocada com afeto, como se existisse um propósito muito sério em "deixar uma marca no mundo". Somos animais sociais anyways, e eu tento me perdoar um pouco por ser orgulhosa, mas deus, como é difícil. E apesar da obviedade da minha mente social buscar por uma resposta rápida como se a solução pra isso estivesse em um relacionamento eu sei que não solucionaria. Há algo na sensação de não caber no mundo que também não cabe e nem se cura em abraços ou todo o afeto do mundo.

Retornamos à terapia, então, pra encontrar um caminho entre a utopia e o caos.