26/10/2017

Everything is about water

Oh, you see
I feel the river
The old one
and I'm tired to be here
I'm so tired
But the river runs faster
and somehow I feel I'm here to learn a lesson



But how can the river
teach how to swim
If I'm still trying to die?

And how can the river
teach how to die
If I'm still trying to swim?

19/10/2017

Simile

Há algo à soleira da porta. Algo obscuro, sem nome. Sem nome porque apesar de me parecer familiar, me é desconhecido.
Não há nada depois da esquina, veja bem. Não há mais animais à espreita nesse deserto, tampouco criatura tentando qualquer coisa perto da dilaceração iminente da minha carne. Na verdade o que há em mim não parece esperar, já está aqui, presente e constante. Um peso, uma coisa perto de qualquer comichão no fundo da minha cabeça, uma dormência contínua, ruído branco pronto pra ser só isso, gota d'água pingando num eco pra marcar o tempo em ritmo infinito.

Mas me cansa. Como me cansa. Esse parasita agarra-se às minhas entranhas, penetra meus ossos, força sua passagem entre as minhas respirações. Dobra meu corpo devagar, invariavelmente sem pressa. Pendura-se insolente nos meus joelhos, segura firme meus tornozelos. Aumenta a gravidade de maneira tenaz e persistente, apunhala minha nuca, aprisiona meus músculos.

O que me parece com tudo isso, é que saio de uma caixa para entrar em outra. Desfaço um nó para que outro seja feito. Saio do labirinto para outro maior ainda. Acho uma resposta e junto à ela, outras milhares de novas perguntas.

Se mordo meu próprio rabo, se afundo a terra sob meus pés ao andar nesses círculos, há algo que me diga que a vida não é prisão?



18/10/2017

Public letter for many

My dear friend
I promisse I'll try to be kind
Because, most of all, I am proud of you
And I am glad that you've tried things
I'm too broken to try
Remember that you have my encouragement
My blessing
And my joy
and now that I see your delight
I almost feel fulfilled

But it doesn't matter how I feel, you see

Because this is not about me
This is not about how damaged I am,
This is not the dreadful things I've seen
This is not about how skeptic I became
Because
This is not my life
This is not my story
This is not my path

And I know you've worried about many things
I know you've struggled
I know you overthink
And sometimes, overfeel everything just like me

I recognize

Now, that you feel whole
Now, that you feel new
Now, that you feel fixed

Now that I know it must be spring season somewhere

I must be my most observant companion
And I must learn
how
to
accept
myself
when
my mind
is

d e s e r t e d


your story is not about me
and this place is not about you

g o o d l u c k

17/10/2017

O nome da matilha

Acordei do que imagino ter sido uma semi-morte escura e sem sonhos. Nessa morte não havia Licaios, nem Gere, nem Maugrim. Também não havia Nitka. E nem havia paz.
Abri os olhos, desorientada, com a língua colada nos caninos e as extremidades dormentes. Sentia cheiro de morte ao fundo. Imaginei se a morte teria sido a minha e isso seria um pesadelo, mas não era.
À minha volta, o que eu conseguia ver através da luz artificial ganhava nome. Eu sabia o que eram, como se sempre tivesse sabido, como se o nome viesse antes da coisa, como se eu fosse algo além de mim. Mim. Eu. Algo além do que eu era antes.
Eu sentia frio. Sentia meus dentes batendo e minha mandíbula tensa. Sentia minhas mãos tocarem meus braços em um abraço encolhido e aflito.

Mãos.

Braços.

Dedos tensos procurando uma unidade em um corpo estranho e gelado.

Fora do semi-sono perturbado e dolorido do frio, havia um outro eu. O som ensurdecedor do frio insensível que eu sentia dentro de mim me tirava o foco de pensar no todo. Um outro eu. Debilitado, doente, novo. Mas completo. Consciente.
Eu sentia metal. Eu estava deitada no metal. Nua. Estranhamente nua como eu nunca estive antes. E eu sabia de tudo. Em tudo havia nome. E o que eu sentia era chamado medo. Eu ainda sentia frio, e o frio cruel ainda doía, mas eu tremia com o terror de aceitar que eu não era mais Nitka, eu era alguém além disso. Eu era alguém.
Tentei abrir mais os olhos, tentei focar, tentei falar. Me ouvi num gemido arrastado e cheio de algo que eu não reconheci. Me ouvi chorar. Um lamento longo, fraco e aflito. Intimamente ansiei que ninguém me ouvisse.

"Então foi isso que eu sempre fui" - eu ouvia o lamento baixo de Licaios. "Eu sempre soube que havia algo. Não errado, não. Sempre fui o que deveria ser." - ele dizia quase baixo demais para que eu pudesse ouvir. "Mas Nitka, eu preciso dizer... Estamos livres".

Livres de que? - eu ainda pensei em desespero, antes que o extraordinário peso da existência tombasse sobre minha cética consciência.



Veja bem, meu amor, tenho certeza que é primavera em algum lugar...