30/12/2014

Sobre uma puta

Paguei.
E era como se eu estivesse comendo dinheiro: duro, áspero, cada vez pior de mastigar, pior ainda de engolir. Misturado à minha saliva, tornou-se um bolo insosso de celulose.
Empurrei pra baixo com chá de jasmin e comida japonesa. Peguei na mão dela e era como se eu pegasse um maço de notas de R$50. Pedi pra que ela me desse um beijo e sorri porque queria me convencer de que estava feliz.
Aquele gesto, talvez, o único carinho que eu fosse capaz de exigir.

25/12/2014

Um retorno - sobre o eterno retorno

Eu gostaria de falar sobre despedidas. E sobre as coisas que a gente andou perdendo no caminho. Sobre as palavras que trancam. Sobre o que eu nunca sei como dizer, quando dizer nem onde dizer (ou mesmo pra quem). Sobre eu sempre ter essa grande dúvida na minha cabeça.
Pra mim é mesmo como sentir uma linha muito nítida sobre o "deixar ir" e sobre o tomar as rédeas e determinar os passos dessa dança. Sobre o esperar ou sobre o guiar.
E eu recuo quando deveria avançar e avanço quando deveria recuar. Como a criança que eu sempre fui por dentro, errada nos passos, desalinhada na canção, desafinada, fora do compasso. E especificamente pra isso parece que desço uma ladeira, meio empurrada, meio jogada, meio escorregando, totalmente sem controle... A única parte da minha vida que EU NÃO FAÇO IDEIA DE COMO AGIR.

a única parte da minha vida em que
eu estou mesmo sozinha

não há o que fazer. Não há espaço, não existe possibilidade de saber como agir. Eu me perco. Eu perco. O passo e as palavras, perco o fôlego, perco a deixa da minha fala e o momento se vai (ele sempre se vai), Pra tudo. Penso que nada é tão forte que não possa se repetir, mas não se repete e eu fujo, saio correndo derrotada pensando o quão burra eu posso ser em deixar que isso aconteça comigo. Meu deus, quase trinta.

é estúpido, não é?
ter a sensação que eu não sou eu mesma, sentir uma parte de mim descolar do peito e ir embora, como se houvesse algo muito errado na maneira como eu respiro, como se uma parte de mim fosse levada, como se uma mão me roubasse de mim mesma, assim, sem pedir permissão. Mas é isso que acontece, me deixando vazia e dolorida. A parte interessante é que eu sei que não há cura. NÃO HÁ CURA PORQUE NÃO HÁ DOENÇA.




Todos nós vamos morrer sozinhos.

01/12/2014

El sonido del silencio

Entender que a vida não funciona com certezas.
E que nada nem ninguém pode ocupar um lugar já ocupado no coração de quem quer que seja.


Existem limites, para que meu coração se estenda tanto a ponto....





a ponto...



de virar...


de virar o que?

[o resto do que havia de mim: uma pilha de ossos, uma montanha de cascalho solto sob os pés, um sol pra aquecer minhas costas cansadas, a dor da água da cachoeira batendo no meu rosto, gelada, infinita, ensurdecedora...



doce como costumava ser quando eu fechava os olhos]