26/07/2010

Pela décima vez


Não sei você, doce amor, mas eu me apego nesses pequenos detalhes. Essas palavras curtas, essas expressões, esses olhares e entrelinhas que aprendemos a usar e a notar todos os dias. Eu me apego.
Como aquele cara de olhos e alma azul me disse hoje, "Eu ouço ela há muito tempo, quase desde o inicio da carreira. Pode prestar atenção, pra ouvi-la cantar bem, mas bem de verdade, coloque um copo de whisky do lado e uma mulher bonita na platéia. Não havia quem não sentisse a voz dela encher o ambiente."
Eu ri. Achei um comentário interessante, me fez querer saber sobre a tal mulher a qual eu ouvi cantar algo que colou na minha cabeça... "Rompe a manhã da luz em fúria arder, dou gargalhada, dou dentada na maçã da luxúria, pra quê?"
Lembrei que conhecia a voz dela de algum lugar na minha infancia, ouvindo as fitas no radio do meu avô, mas então as palavras nao eram nada.
Procurei arquivos, baixei músicas, vi videos, li artigos e blogs abandonados que ela colecionou ao longo de anos. É uma mulher divina e infernal, digna de todas essas palavras que canta, apertada no peito, doída, carregada e forte. Dentro de todas as possiveis entrelinhas que recita abertamente, realmente alguém pra se ouvir e agora.... se entender.

"Através da fumaça neguei minha raça chorando, a repetir:
Ela é o veneno que eu escolhi pra morrer sem sentir."


23/07/2010

Sturm und Trübe




(...)

You trick your lovers that you're wicked and devine
You may be a sinner
But your innocence is mine
 
(...)

22/07/2010

Meu nome é Gabriela

Fechei meus olhos pro meu mundo para abri-los em outro.


Nesse mundo eu acordava e passava a mão no meio de cabelos que não existiam. Não me surpreendia mais em não ter cabelos, nem sobrancelhas, nem cílios, mas ainda me encomodava toda a rotina de hospital porque meus exames ainda não tinham definido nada de bom. Tinha a sensação de frustração constante, de estar nadando contra a maré. " Se é pra viver assim então prefiro morrer" foi o que eu disse ao médico quando me falou sobre os problemas que eu enfrentaria com a quimio. Mas fiz as perguntas pertinentes sobre o que seria a minha vida dali pra frente e absorvi tudo o que eu poderia usar de fuga.
Sexta sessão, meus exames são semana que vem. Existe uma enfermeira no hospital que está grávida e me diz que gostaria que sua filha tivesse olhos como os meus. Digo pra ela que não valhe a pena ter olhos de quem desistiu. Ela sorri, faz carinho no meu rosto e se senta ao meu lado em silêncio enquanto ouvimos o doce badalar do soro pingando devagar ao meu lado.
- Ela vai ser de câncer. 'Tá pra nascer em Julho, vou chamá-la de Alice. Gosta desse nome?
Eu não respondo. Penso que se eu tivesse uma filha ela teria esse nome. "Nascida em um mundo de loucos", e sorrio em uma piada interna.
Não consigo me acostumar com o enjôo constante e com as tonturas, nem com as pessoas me dizendo que eu ficarei bem. Sinto meu corpo morrendo muito mais do que antes, sinto o cheiro dos remédios na minha pele.
Pedi à minha mãe que não chorasse. Nem que gastasse um dinheiro que não tinha pra me curar. Disse que sabia que eu morreria e que pagar médicos só serviria de bálsamo mental pra ela depois que eu morresse "ao menos eu fiz tudo o que podia". Pensamento egoísta esse e ainda acho que a magoei.
Me levaram à uma reunião de apoio aos pacientes com câncer. Todos lá estavam mortos e eu também.


Mas eu acordei, pensando que não gosto de sonhar com essa garota que não sou eu.
Pensando que é mesmo muito ruim não querer mais dormir.

06/07/2010

Über Alles

Não sei se escrevo. Não existem palavras.
Não sei se sinto, porque o que passa sobre mim me arrasta contra o chão e me comprime. Toneladas de concreto.
Minha vida é cheia desses pequenos tabus que poluem a minha existência, esses pequenas máscaras cotidianas, essas coisas que eu silencío em mim há anos e que não suporto mais carregar. Minha vida é só minha há muito tempo, junto com toda essa carga existencial e essas opiniões formadas pela minha vivência da qual estou cansada de esconder.
E eu sou eu mesma, e quero briga. E essa é aquela hora-zero em que talvez eu recarregue o desejo de ir embora e fazer minha vida, sozinha.