20/08/2009

Teardrop

Beijei castamente seu rosto e seus cabelos enquanto seus olhos lacrimejantes vidravam nos meus, absortos. Ela piscava muito pouco enquanto seguia meus movimentos com o canto dos olhos. Suas sobrancelhas se arqueavam. Acho que ela estava com medo.
Ela fechou os olhos e chorava baixinho enquanto eu lhe cantava alguma cantiga inventava que enchia o quarto e abafava seus lamentos. Eu estava feliz. Ela não iria sofrer mais.
Embalei-a pequena no meu colo, enquanto ela apenas contorcia-se e balbuciava algum lamento abafado entre meus cabelos. Eu disse que entendia, porque queria entender, e chorava, porque a beleza dela me tomava de tal forma que eu perdia o controle sobre o que eu julgava ser verdade ou mentira, ou mesmo as duas ou a minha imaginação fértil.
Em meio às lágrimas, ela me lançou um meio-sorriso tímido, um rabisco de emoção lúcida. Durou um segundo, mas estava lá, seu olhar de trovão fixo em mim e um sorriso obliquo dependurado em uma moldura de olhos chuvosos.
Claro, o tempo parou. Eu parei. E o mundo pareceu girar devagar, como nos filmes.
Eu tive mais um segundo para pensar (ou organiza-los de forma racional) e no próximo eu estava respondendo ao sorriso dela como meu sorriso mais espontaneo-bobo que eu poderia expressar.
Aquele momento escorreria pelas minhas mãos no próximo pensamento, mas eu não o perderia. A partida dela da minha vida não poderia ficar mais na minha memória do que aquele segundo.

Apenas um segundo.
O suficiente para que o meu mundo parasse de girar.