26/08/2015

I see the dull flame of desire

sorrio num movimento pouco natural
caminho contando os passos pra não enlouquecer
cruzo os braços e aperto os nós dos dedos
em torno do meu próprio corpo
porque preciso ter a certeza de que é impossível fugir de mim mesma
me forço a enxergar coisas que meu interior insiste em negar
envolvo meu coração entre os dedos e o aperto até que pare de bater
balbucio letras de músicas que falam sobre amores perdidos
busco dor, busco o escuro, busco um ponto de escape
ocupo a mente, enterro a cabeça no travesseiro e grito em silêncio
mas sinto cada parte do meu corpo me levando rio adentro
sonho com os olhos abertos enquanto todo o resto entra em combustão
e o movimento é delicado
intenso
infinito
denso
familiar
contagiante

doce como é na minha lembrança
assustador como sempre é afinal


23/08/2015

I'm burning

Entenda, nada do que eu escrevo aqui tem intenção alguma de nada.
Entenda, o que eu escrevo aqui não tem a pretensão de ser algo que não sejam só palavras que transbordam. Porque é isso que acontece: elas só transbordam.
Nada do que eu escrevo aqui anseia pela verdade absoluta, ou pela realização de nada.



MAS



eu fecho o livro
eu cerro os olhos
eu cruzo os braços
eu represo instintos
eu evito conflitos
eu amarro meus pés e mãos ao meu próprio corpo
e, mesmo assim, as palavras continuam a transbordar sem controle num fluxo denso e constante diretamente pra fora da minha cabeça, de encontro ao centro do meu peito incandescente

burn, bitch, BURN



20/08/2015

É de abrir os olhos que eu tenho medo

Meu coração continua batendo forte momentos antes de eu pegar no sono. Minha cabeça continua rodando mesmo que eu feche os olhos com força. Meu corpo em silêncio se acomoda ao som de uma respiração que não é a minha e se aconchega em uma cama que não é a minha. Eu estranho a claridade da janela e me viro infinitamente na cama; estou sem sono.

Eu entrelaço as pernas na cintura dele e o puxo pra mim enquanto mantenho os olhos fechados no escuro. Sinto seus olhos castanhos olhando pra mim, esperando por um próximo passo. Ele tira uma mecha de cabelo do meu rosto e beija meu pescoço. Roça a barba perto da minha orelha, porque é provável que eu tenha deixado escapar o fato de que eu gostava disso enquanto estava bêbada. Ele não sabe muito o que está fazendo ou esperando. Nem eu, na verdade. É sempre estranho isso pra mim, testar pequenos limites iniciais, começar qualquer movimento que seja. No entanto eu estou lá, atenta ao calor da pele dele entre as minhas pernas; atenta ao meu próprio calor; atenta à minha boca seca e semi-aberta contrastando com meus olhos fechados com força. Eu o abraço, mas ele não retribui. Passo meus dedos pelas costas dele e sinto que tranco a respiração por motivo algum. É medo, o que eu sinto? Eu ainda não sei o que estou esperando dele ou se espero qualquer coisa. Tenho a plena consciência de que eu poderia me deixar ficar aqui pra sempre. Nesse mínimo espaço entre duas pessoas, reside todo o silêncio que eu queria ter pra minha mente. No centro do peito dele, reside toda a certeza de que eu realmente deveria aproveitar o que o momento me reserva; e eu não preciso de nenhuma outra certeza na vida. Meu corpo inteiro vibra. Eu tenho plena certeza de que ele consegue ouvir meu coração batendo rápido demais. Minha mente arrependida me repreende por ter bebido mais do que deveria. Ele mexe no meu cabelo e levanta o meu rosto pra que eu abra os olhos, mas meu encosto os lábios na mão dele e mantenho os olhos fechados. Meus movimentos são inesperadamente lentos, como se eu temesse quebrar algum encanto, como se o menor ruído fosse desfazer tudo em névoa. Ele me puxa pra si.












E eu acordo.

17/08/2015

Este texto é sobre catarse

Então eu me apaixono. E eu me apaixono com força, me apaixono com o corpo todo. Eu caio de cama. Eu choro, eu paro de comer, eu paro de dormir, eu paro de me concentrar em tudo do mundo real e me recolho pra dentro da minha própria cabeça. E no início eu nego. Por que eu sei o que vem em seguida. Eu brigo, eu contenho. Depois eu solto, eu sorrio, eu aceito, eu canto, eu danço, eu festejo.
Então eu trabalho. Eu me aproximo mais, minha boca abre sozinha e dela escapam palavras que significam. Eu sinto vergonha, eu coro como uma menininha. Então eu envolvo a outra pessoa na minha aura passional. Eu cuido, eu zelo.
E no conforto de estar em um relacionamento eu entro num estado de calmaria. Então eu amo. Eu cuido. Mas eu me viro sozinha. Eu zelo, mas não cobro. E a outra pessoa não entende.
Porque em algum momento, na cabeça dela, ser passional e ser passiva se torna a mesma coisa.
Então há um erro de comunicação, uma falha, uma faísca, leve e surreal, quase abstrata. Mas está lá... e é ela que acende na minha mente uma revolução. Meu amor é real e leal e não exige nada em troca. Mas não se sustenta em bases limitantes. Não se alimenta de prisão. Não se baseia em ceninha ou ciúme. Eu não quero me dividir, eu quero multiplicar, eu quero que a outra pessoa cresça comigo, voe comigo. Comigo ou como for, mas não só por mim!
E então eu descubro que da mesma forma que o amor veio ele vai. E que eu consigo desprezar com a mesma força que eu me apaixono.
Então eu desprezo. E eu desprezo com força, desprezo com o corpo todo. Eu caio de cama. Eu choro, eu paro de comer, eu paro de dormir, eu paro de me concentrar em tudo do mundo real e me recolho pra dentro da minha própria cabeça. E no início eu nego. Por que eu sei o que vem em seguida. Eu brigo, eu contenho. Depois eu solto, eu sorrio, eu aceito, eu canto, eu danço, eu festejo. E acabo sozinha.



16/08/2015

Time to prune

Notar minha pele aquecendo vagarosamente até ser tomada por chamas e sentir minha nuca se arrepiar em ondas ritmadas. Dançar no que parece ser uma eterna melodia de pequenos significados. Jogar, jogar, jogar, jogar e jogar no papel de tola, e, mesmo sabendo o meu lugar, aceitar o fluxo infinito de troca de olhares que me levam... aonde?
Ouvir no fundo da minha mente um despertar, sutil, lento. Um tremor que estende sua mão macia e densa e roça seus dedos pela minha espinha acima... 



Pra apertar forte o meu pescoço e me despertar da ilusão de ser desejada.

ISSO NÃO É UM JOGO.
ESSE NÃO É TEU LUGAR.
ESSA SENSAÇÃO NÃO É REAL.





W A K E U P


13/08/2015

Call me River

Eu tive medo por tempo demais, de nunca mudar. De continuar sofrendo por amor, de chorar todas as lágrimas possíveis numa tentativa vã de drenar todo o sentimento de dentro mim, mas [estranho] não é isso que acontece, não mais.
Preciso dizer que aprendi de uma maneira muito sutil a controlar meu pior instinto de possessão. Em tempo: eu achei que eu nunca mais me apaixonaria, que nunca mais conseguiria sentir todas as sensações que me eram tão familiares, que me tiravam o ar e a fome, que mexiam com a minha cabeça de uma maneira profunda e sintomática. Mas aqui estou eu, viva e respirando, aprendendo a domar todos os sintomas, aprendendo a senti-los e a ignorá-los de maneira adequada.
Adequado. Nunca achei que poderia usar essa palavra pra descrever os sentimentos em mim, mas é isso que parece. Adequado. Controlado. Objetivo. Derrubar meus sorrisos em pequenas gotas contidas, segurar minhas lágrimas o suficiente pra não me causar desgosto, mas deixá-las sair quando me pesam demais. E pesam, porque toda mudança exige dor e energia, mas eu não me importo.
E toda mudança que exige alguma dose de dedicação vem como epifanias diárias: é quase impossível agora pensar que algum dia eu vou entrar em um relacionamento de novo; ele não vai ser feliz comigo, eu não vou ser feliz com ele; eu aprendi a exigir menos, mas isso não significa que eu esteja preparada pro que estaria prestes a vir; o mínimo desejo de possuir aos poucos extinguiria o pouco respeito que eu tenho por mim mesma; eu não vou me tornar uma intrusa; eu não preciso de alguém dizendo que me ama; eu tampouco acho que ele precise também; eu vou sobreviver, ninguém nunca morreu por causa disso; eu não vou me afastar; eu não vou embora; eu vou ser sincera com meus sentimentos;
Eu vou ser sincera com meus sentimentos mesmo que eles não me sirvam de nada agora. Mesmo que eles me arrastem a um beco sem saída, mesmo que eu saiba que existe uma dúzia de razões pra me sentir levemente rejeitada. As pessoas amam diferente, e é engraçado aprender só agora sobre isso. O mesmo tipo de amor (chame-se respeito ou o que for) que ele [nutre] por mim nunca poderia virar outra coisa, nem preencher o vazio que eu sinto toda a noite. Mas eu não sofro com isso, deus sabe que eu não sofro. Que apesar do meu corpo tentar me fazer acreditar que é do toque dele que eu preciso, eu não sofro. Eu rio. Eu acho tudo muito engraçado.
O mínimo que eu exijo de mim agora é não sofrer. E é tão bom que eu quase não me culpo por nada. É tão bom que eu realmente só me deixo levar pra onde quer que seja.
Toda a minha solidão, toda a falta que eu sinto de tudo, todo o meu desespero, toda a minha depressão e loucura, a minha falta de centro, toda a minha visceralidade e falta de lugar no mundo, ele me ajuda a superar. E esse é o máximo que eu me permito chegar perto dele.