26/04/2018

Under the Silence

Meu silêncio parece prenunciar muitas coisas. Eu sei que alguma coisa está para acontecer quando o silêncio envolve algo, como um véu de ilusão ou uma fina película com muitos significados.

O silêncio é, dentro do ciclo do ouroboros e das coisas palpáveis, um prenúncio de tempestade.

Aqui, no entanto, sempre parece começar a ficar barulhento. Parece que há uma necessidade das palavras, de tornar o abstrato real, uma marca no mundo, nem que seja momentânea, mas que há de se tornar registro. Aqui ou no mundo, as palavras precisam existir.
Sempre parece haver um espaço de silêncio e um espaço de fala, muito distinguíveis entre si. Aqui, quando o silêncio impera, as palavras tomam forma no mundo real. Por outro lado, meu silêncio do mundo real parece precisar derrubar todas as suas palavras em outro lugar. Uma caixa, um papel, poesia barata, um livro pelo qual suspirar. Aqui.

O que há para se aprender sobre isso? Sobre as palavras e os registros, sobre como isso é significante da minha estrada ou sobre o valor que eu carrego em mim sobre tudo isso?

24/04/2018

The room is a lie


Meu melhor eu me trata com alguma dose de indiferença e não esconde mais o quanto está insensível aos meus rompantes de descontrole.
Olha pra mim meio de cima, com algum dó que faz questão de me mostrar, e suspira profundamente enquanto percebo evidentemente a curvatura acentuada das suas costas cansadas. Passa a mão nos cabelos e olha pra fora, além da janela, além de mim, além da própria vida e parece suspirar em busca de alguma resposta pra me dar, mesmo eu não tendo feito nenhuma pergunta. Parece que a qualquer momento vai irromper em palavras baixas, mas só suspira e torce o canto direito da boca.
Meu melhor eu está cansado do meu pior eu e de todos os outros, mas não ousa falar mais nada e tem medo de todo o resto.
Meu pior eu está naturalmente jogado no chão, numa crise infinita de lágrimas abundantes e salgadas e ameaça se afogar no mar do desespero ou na poça de lama mais próxima. Poucos são ainda os que dão ouvidos a ele, que aprendeu em algum momento que não adianta prenunciar nada que não se esteja de corpo e alma disposto a fazê-lo. Meu pior eu fica numa sala isolada dos olhos, mas próximo demais de todos os meus ouvidos.
Enquanto isso meu eu razoável senta-se em frente à escrivaninha e observa os milhares de planos, coça uma das vinte testas, faz riscos ininteligíveis sobre as pilhas de papéis sobre a mesa. Suspira de vez em quando e só faz intervalos pra tomar água e pegar alguns minutos de sol por dia porque ouviu dizer que faz bem.
E eu me encontro aqui novamente, num espaço muito curto do tempo, o lugar retornável no ouroboros, estaca zero, vazio e cheio ao mesmo tempo. Daqui eu observo as pedras no caminho e elas me observam. E daqui eu penso se ainda estou no momento de decidir coisas ou de deixar me levar até o limite mais uma vez. Se ainda há qualquer necessidade de esperar a porta do quarto abrir para que o choro lá dentro se torne real ou se eu posso só seguir não nomeando as coisas até que elas tomem nomes para si.

Vejo relâmpagos no horizonte, mas não ouso abrir o guarda-chuva enquanto não ouvir os trovões com a ameaça de atrair a chuva antes mesmo que ela se torne real. No entanto, temo permanecer aqui com a ameaça de ser levada novamente pela tormenta. Meu melhor eu me observa e aguarda, há de me tirar mais uma vez do afogamento ou me deixar afundar de vez.