01/07/2008

Ana


Ana, vestida com todas as quinquilharias do meu velho baú de lembranças, tomou conta da minha festa de casamento.

Dançava como se o demônio beijasse a parte interna de suas coxas e rodava ao som de um tambor incediando o chão onde pisava com os pés descalços.

As mulheres queriam tomá-la do meio da roda e seus olhos flamejavam de ira, eu sentia. Os homens também queriam tomá-la, mas de outro jeito. A maneira com que ela sorria com seus dentes de pérola e se contorcia em torno do próprio corpo cheio de curvas... Que devassa! A devassa com que sonhei durante todo esse tempo estava lá, mais uma vez, pra me mostrar como ela podia ter o que quisesse.

Eu, olhando de fora, debaixo da chuva fina, escorada a uma árvore, apenas acompanhava toda aquela sensualidade de longe. Ana podia ter o que quisesse e eu não podia fazer nada, eu era só uma garota perto dela, um ponto branco perto à uma pérola de luz.

Ana pegou um copo de vinho e com as mãos tapadas de terra, derramou o copo inteiro sobre os seios. O vestido pareceu gostar. Grudou-se à pele quente dela querendo fazer parte de todo aquele espetáculo e moldou-se aos passos daquela dança pervertida. Meu corpo também era qunte e eu me senti ruborizar. Os pingos de chuva grudaram meu vestido ao meu corpo também e por um momento eu quis estar lá, de olhos fechados, dançando vulgar, me sentindo uma mulher livre com ela. Eu desejei ter o gosto daquele vinho só mais uma vez.

Minha mãe chorava. E exceto a música, marcado pelos passos da Ana, todo o resto era silêncio.



Ana gargalhava histérica e vulgar. Eu mal respirava.
E decidi naquele momento que não queria mais ser a noiva.