28/05/2012

Me parece

...que hoje eu vivo uma outra vida.


Me parece que hoje eu aceito tudo como se sempre me tivesse sido natural dizer sim às pessoas e às coisas.
Perdi o medo. Perdi a vaidade. Perdi o pudor.
Mudei de nome, mudei de corpo, mudei de vida.
Em algum momento perdido me arrancaram a alma, e eu deixei de estar aqui, presente. Mas sabe, eu ainda me encontro em cada esquina, então, eu ainda me espero. Eu me vigio, ainda que de longe.

E depois...
Depois eu me recebo de peito aberto, com um abraço de velho amigo e desejos renovados. Um beijo na testa, um "boa noite" sussurrado e um pouco de loucura e desapego a mais na bagagem.

20/05/2012

J'ai tellement besoin d'amour

Respirei fundo, subi e desci as escadas um milhão de vezes, parei de sentir os lábios e as pontas dos dedos das mãos.
Dancei até não sentir mais os joelhos, sorri até me doer o rosto. Um noite feita de doces corpos sem nome, de alguns beijos perdidos em uma multidão que me levava adiante e talvez um par de olhos amendoados me olhando timidamente.
Luzes na minha mente, inundando salgado o rio calmo que eu fui. Talvez eu só esteja apaixonada. Apaixonada por essa nova vida, tão macia e cheia de possibilidades.

Me chama novamente com esses teus olhos inocentes,
vamos passear sob o pôr-so-sol.

14/05/2012

The sun will warm our souls

Dançar num derrear infinito de retornos, tocar seus rostos breves de inocência.
Erguer meu corpo acima do limiar dos sonhos, conhecer talvez mais um ou dois pares de pés brancos tensos em saltos impossíveis.
Colar meu lábio entreaberto na fronteira macia da lembrança... Talvez mais alguns dias, meses... Ver esse teu sorriso mais uma vez, insano nos meus braços. Esse permanente derreter de inverno intenso.
Sentir suas cinturas sufocadas num doce puxar de tecidos e metais, sentir suas respirações entrecortadas ao deslizar as amarras no cetim. Ensurdecer ao som dos trompetes, dormir e acordar e dormir nesse constante embriagar de desejos.
Me permitir ser carregada escada acima, num infinito perder e encontrar de olhares. Contar as estrelas do céu um trilhão de vezes, buscar o erro, respirar o doce escorregar e cair do que é ser humana.
Pressionar as palmas das minhas mãos sobre seus ombros, um beijo talvez... "Eu ainda te admiro e te respeito. Talvez... Talvez... ainda mais do que antes, mais do que nunca."


12/05/2012

A vida é feita de lembranças e promessas, de vislumbres, de sonhos que não se realizam e de constatações sobre uma realidade que talvez nunca tenha ocorrido.

Somos todos crianças ainda, e apenas crianças mais velhas.

05/05/2012

Ausência


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Vinícius de Moraes