29/03/2016

Vem sono...

...que do meu último suspiro na superfície, eu nunca te desejei tanto.


E entenda, meu bem, que suicídio é uma palavra cheia de significados.

28/03/2016

I'll make you hurt

a serpente infinitamente venenosa morde a carne macia do meu pescoço
se aperta em torno do meu corpo lentamente
voluntariosamente torce o canto da minha boca num sorriso um tanto insano
descasca a camada decadente da minha aparente estabilidade
lambe o sal do meu suor frio
e me diz, com mil vozes
mil vezes

E U V O U D E S T R U I R T U D O O Q U E V O C Ê A M A

e eu assisto tudo com uma incredulidade assombrosa
com as mãos sobre a boca
hesitante na força de evitar que eu arranque meus próprios olhos
com a ideia insana de arrancar meu próprio coração
mas a serpente me abraça e me diz

F I C A

ela me abraça de forma inimaginavelmente terna
morna, como é a luta dos meus sonhos/pesadelos
dolorida e inadmissivelmente prazerosa
beija o lóbulo da minha orelha enquanto quebra cada osso do meu corpo
lambe meu pescoço enquanto dilacera meus órgãos
perfura meus pulmões, rouba meu ar, bebe do meu sangue
e eu sinto tudo parar de funcionar, tudo desistir
e eu não sei se é grito ou canção

T U D O V A I T E R M I N A R L O G O

24/03/2016

Sobre esse animal que persegue a presa em mim

De maneira alguma nomear um problema o faz desaparecer.
A sensação ainda é a mesma, apesar de tudo o que possa parecer, de todo o nome científico-médico que isso possa ter.
É isso: eu tenho sido perseguida, vigiada, controlada à distância. Tenho me tornado levemente paranoica apesar de toda a racionalidade que me diz que isso é anti-natural. Há algum animal à solta, espreitando meus momentos de vulnerabilidade e eu sinto que a todo momento ele está pronto pra me arrancar a cabeça em uma bocada. Dilacera meu corpo, deixa os restos pros animais que se interessarem. Mas ele não ataca, parece ter qualquer prazer sádico na perseguição, qualquer prazer malicioso no meu medo. Ele ouve o que se passa dentro do meu corpo, ouve o lamento infinito do pássaro dentro de mim. E ele se interessa.
Entenda, há um pássaro no meu peito, se debatendo com força contra as minhas costelas que o prendem. E eu ouço ele trinar descompassado e baixo, um canto desesperado e breve, obstinado e louco, ouço o baque surdo do seu corpo minúsculo contra a cela apertada do meu tórax.

O animal que me persegue não só rouba o melhor de mim, mas também me faz enxergar que parece não haver espaço aqui para abrigar nenhum tipo de vida que não sobreviva contra vontade.


16/03/2016

s i l e n c i o s a m e n t e

Tudo tem se tornado um universo centrado, girando obstinado em torno de pequenas expectativas que eu me orgulhava de desconstruir ou de não alimentar. Mas nada mais me aterroriza e me cansa do que me dar conta de ter alimentado expectativas silenciosas, fora da órbita visível do meu campo gravitacional.
Se uma estrela explode, se um buraco negro se forma, se um astro vira uma supernova, ainda que não haja ruído, é inegável que o baque possa ser sentido a anos luz de distância. E é isso, a pressão no meu peito causada pela explosão de todo um lado negro do universo que eu alimentei cegamente, imperceptivelmente, até que explodisse e me atingisse sem que eu pudesse fazer nada, sem que eu pudesse prever, sem que eu pudesse m e p r o t e g e r.

Viver é uma experiência solitária.



Ou talvez eu esteja tão presa na órbita do meu próprio nariz que tenha desaprendido a ser feliz e deixar as coisas serem como elas são.