28/02/2016

A culpa tirou o melhor de mim

As coisas explodem como eu planejei não acontecer, mas é necessário admitir que falhar é humano. Essa coisa, de ser humano que tanto me cansa e que tanto me perseguiu essas últimas semanas, volta pra me assombrar uma vez mais. Perdi o controle, perdi o tino, perdi a máscara e dói tanto, tanto, tanto a falta disso, a falta de saber que eu comando as coisas que acontecem que não há felicidade NÃO HÁ FELICIDADE CAPAZ DE ME DIZER QUE O QUE EU FIZ FOI CERTO OU MINIMAMENTE ACEITÁVEL, QUE FOI INFINITAMENTE PROVEITOSO NÃO INTERESSA O QUE SEJA.
É como tomar um tapa na cara a cada momento de silêncio da mente, em que as mãos se revezam pra apontar violentamente com o dedo em riste o que eu considero um resto mínimo de vergonha sobre o que pode ter acontecido, sobre a minha cabeça vagando, sobre eu sorrindo ainda assim, ainda assim NÃO HÁ FELICIDADE, NÃO HÁ LIBERDADE SE EU CAIO SEMPRE NO POÇO DA MINHA PRÓPRIA COBRANÇA SOBRE PERFEIÇÃO, SOBRE VERGONHA E SOBRE MEDO. Ainda, sim, o medo. Aquele medo que eu detesto, o medo que tirou o melhor de mim, o medo que me faz criar listas sobre coisas que não me deixam dormir de noite. O medo de sofrer, o medo de me ferir de novo e de novo, o medo de ferir as outras pessoas, medo de não suprir necessidades, medo de descer do pedestal de "forte e responsável", o medo que eu tenho sobre cobranças, expectativas, sobre espaço, sobre precisar sempre sorrir e aceitar, sobre ser adulta e sobre ser madura e sobre não fazer a tal cena, sobre não fazer drama, sobre não pensar demais, sobre não tentar enfiar sentido em tudo, em tudo porque sim eu ainda acho que as coisas precisam de explicação, porque eu odeio surpresa, e eu odeio o medo de não conseguir entender o que me dizem quando dizem que eu preciso aproveitar coisas.
E eu peço desculpas, como se isso fosse silenciar a minha mente, como se fosse aplacar minimamente a violência antinatural da culpa, como se eu precisasse mesmo me desculpar, como se eu fosse uma criminosa ou alguém simplesmente com um caráter muito ruim me desculpa, me desculpa, me desculpa, por favor. E é isso que eu ouço, que eu estou sendo boba, que não fiz nada de errado, que eu estou pensando demais, e que não há nada pra ser desculpado e as pessoas cansam, meu deus elas cansam, como eu poderia culpá-las (?), me desculpa, mas como explicar isso pra dor física pesada, tão pesada que eu sinto? Como aplacar isso? Como tirar isso daqui? No meu peito não tem mais espaço pra medo de rejeição, como eu ainda consigo criar e nutrir esse tipo de sentimento? Como ainda há energia pra isso, por favor alguém me explica. Por favor, me desculpa.
Que tipo de coisa horrível é essa que me faz pensar que eu fiz errado tão errado em me divertir minimamente, em aproveitar um tempo com meus amigos, em me permitir amar meu corpo meu deus que horror, que horror, QUE HORROR QUE HORROR ME DESCULPA, POR FAVOR ME DESCULPA, me desculpa. Que liberdade ridícula é essa que me leva diretamente pros braços do pânico imediato? Mais uma noite insone porque simplesmente me permiti usar meu corpo pra obter algum tipo de prazer puta que pariu a culpa ainda vai me matar. Olha só que interessante, meu câncer já tem até um nome. Por que eu ainda penso que uso as pessoas? Que uso do sentimento e da consideração que elas tem por mim pra obter algum tipo de vantagem, porra mas que merda. Porra, me desculpa. Pelo amor de deus me desculpa. Me desculpa.
E eu faço agora o que eu faço de melhor, trabalho, trabalho, trabalho até que meus músculos doam, até que eu perca a noção real do que faço, até que meus olhos se embaralhem, mas as lágrimas caem enquanto eu trabalho porque nada silencia a minha mente, porque não há liberdade na culpa, porque não há ar no sufoco da vergonha, porque não há descanso no medo, porque não há silêncio no grito de "culpada" que eu ouço reverberar dentro do meu crânio. E todas as coisas que eu ouço, é a minha voz que fala, é a minha voz que grita, é a minha voz que vibra S U A  P A T É T I C A, SUA RIDÍCULA, TU É DIGNA DE PENA SUA IMBECIL, QUEM TU ACHA QUE TU É PRA ACHAR QUE ALGUÉM, ALGUÉM, QUALQUER QUE SEJA VAI OLHAR PRA ESSA TUA CARA DE PUTA, ESSA TUA CARA DE SUJA SUA GORDA ESCROTA E VAI ACHAR QUE TU VALE O QUE TU COME, VAI TRABALHAR, TRABALHA FILHA DA PUTA PORQUE É PRA ISSO QUE TU SERVE. TRABALHA PORQUE DO TRABALHO TU SABE O QUE TU GANHA AO CONTRÁRIO DAS PESSOAS, PORQUE É ISSO QUE TU SABE FAZER, TU SÓ SABE COBRAR AS PESSOAS SUA RIDÍCULA NINGUÉM TE DEVE NADA BAIXA A TUA CABEÇA E PEDE DESCULPA PORQUE TU NÃO VALE O CHÃO QUE TU PISA TE CONTA FELIZ QUE ALGUÉM AINDA TEM CORAGEM DE OLHAR NESSA TUA CARA PRA FINGIR QUE GOSTA DE TI PORQUE TU NÃO VALE O ESFORÇO DE QUALQUER PESSOA QUE SEJA PORQUE TU É RIDÍCULA, MIMADA E RUDE, PORQUE TU É UMA PÉSSIMA AMIGA PORQUE TUDO O QUE TU FAZ É PRA CHAMAR ATENÇÃO PRA MENDIGAR UM MÍNIMO DE AFETO SUA IMBECIL, PORQUE TU É GROSSEIRA E TEIMOSA, PORQUE TU NÃO VALE O COLO QUE TU SENTE FALTA PORQUE TUDO O QUE TU VAI LEVAR DAQUI VAI SER O MEDO, A CULPA E A VERGONHA PORQUE É ISSO QUE TU MERECE, TU SÓ MERECE PASSAR A VIDA TRABALHANDO PRA NÃO PASSAR VERGONHA NA RUA E NA CASA DOS TEUS AMIGOS. PARA DE FAZER ELES PASSAREM VERGONHA, TU NÃO VALE OS AMIGOS QUE TU TEM TU VAI MORRER SOZINHA S O Z I N H A S O Z I N H A E NÃO TEM NADA NADA NADA QUE TU POSSA FAZER SOBRE ISSO ACEITA E SAI DAÍ ENQUANTO TU AINDA TEM CARA DE PAU SUFICIENTE PRA FINGIR QUE AINDA EXISTE OUTRA SAÍDA QUE NÃO SEJA CORRER PRO MAIS LONGE POSSÍVEL
TU
VAI
MORRER
SOZINHA
SUA
ESCROTA


16/02/2016

Happiness is a fragile thing

Há ainda essa dor no peito, essa irritação de não conseguir desligar, esse humor desviado torcendo meu corpo como um pano de chão. E eu me sinto em algum lugar entre o invisível e o fardo, como se as pessoas tivesse obrigações extremas de me carregarem no colo ou me esquecerem pra sempre, para o bem ou para o mal e dentro de tudo o que isso implica. Há ainda aquela necessidade estranha e necessária, não só pra mim, de que óbvio seja dito e estabelecido. Quando tudo o que eu quero é silêncio e carinho, eu ainda sou obrigada (no contrato de ser humana), a tentar sobreviver.
Distorcido é o fato de que os dias ainda correm sem que eu tenha controle, e que a falta de controle sobre as horas, por mais ilógico que isso pareça, ainda me abala. Ás vezes eu sinto como se em algum momento o tempo foi controlável e eu simplesmente agora me vejo sem esse poder. Parece que em algum dia, entre a dor, a perda, a felicidade e a motivação eu consegui dominar o momento de apagar, de perder coisas, de deixar de ver, de deixar de ouvir, de me deixar vulnerável ou aberta para surpresas e tudo que elas implicam. Eu consegui dobrar isso à minha vontade, como se faz com qualquer outra coisa muito mundana, como se eu tivesse quase a escolha de dormir (ou não). Dormir ainda não parece mais do que uma incômoda obrigação no contrato de ser humana. E não há meio-termo pra isso, ou há o céu ou o inferno. Ou há o perder tempo ou há o total esquecimento.
De qualquer forma, sobre o tempo ou sobre as pessoas; sobre as palavras, sobre as magias, sobre as técnicas, sobre as rezas e sobre as cartas colocadas na mesa, a sensação de estar perdendo algo ainda é a pior parte.



07/02/2016

Falar de si mesmo não muda nada

Não há como sair desse labirinto, mas ainda não consigo evitar procurar uma saída. Ao menos eu aprendo coisas práticas, behaviorismo, ou como melhor colocar as mãos aos redor da boca ao sorrir. Eu sorrio, rio, até perder a noção da altura da minha voz, até perder parte da graça, até que eu me canse de respirar, até que meus músculos doam. E não faz diferença, embora signifique infinitas coisas, infinitas possibilidades, infinitas respostas.
Eu choro também, bastante sem que eu tenha controle ou que consiga conter, mas ainda prefiro não me deixar levar a lugar algum: nem à pena, nem ao inferno, nem à exaustão, nem à nenhuma saída. De nada adianta que eu enxergue as respostas se eu não consigo alcançá-las.


02/02/2016

Constatações in media res


As coisas são o que são. A busca de significados, que nos faz tão humanos, parece tão somente preencher nossa existência em justificar palavras e só existem como mais um meio de sobrevivência.
As coisas são o que são. As palavras são o que são. As pessoas são o que são. Embora seja dolorosamente fácil preenchê-las (as palavras e as pessoas) de outras coisas, nada faz com que elas se tornem outras por puro desejo de quem as ouve ou vê.
As coisas são o que são. Um "eu te amo" ainda é um  "eu te amo", para o bem ou para mal, não importando quantas interpretações meu coração leviano é capaz de atribuir a essas palavras.
Não há nada que as mude. Não há nada que elas mudem. Nem a minha humanidade, nem a minha resignação, nem a ciência, nem um alinhamento planetário ou sigilo.
Existem coisas pra mudar. Existem coisas pra aceitar.
E aceitar que algumas coisas não mudam está no topo da minha lista de prioridades.