13/07/2007

Tão forte, tão minha

Ela me olhou com seus olhos ternos de esmeralda e disse:
"- Quando eu te levar pro céu junto comigo, nós poderemos acender as estrelas quando a noite chegar e faremos redemoinhos de vento entre as nunvens quando o sol estiver acordando..."
Naquele momento eu me senti tão pequena quanto ela, do alto dos seus seis anos e pés descalços, tão confortáveis na terra fofa e úmida da madrugada.
"- Quando você vai me levar?"
Ela continuou olhando encantada para o céu que começava a encher-se de estrelas. Então abriu um sorriso infantil.
"- Você quer mesmo saber?"
Ela não largou minha mão, nem olhou para mim. O rosto dela era redondo, despido de traços adultos, despido de maldade. Os cabelos dela eram tão longos que faziam voltas no chão. Cheiravam à própria terra e eu os havia enfeitado com flores, como ela chorosamente sempre me pedia quando me visitava. E eu adorava fazê-lo, me sentia tão parte dela que às vezes ela falava comigo sem mover os lábios.
"- Não." - eu respondi finalmente, meio perdida, meio não.
Eu olhei para o céu, na direção que ela olhava. Me sentia triste e incompleta, e ela, tão pequena, tão minúscula, adorava se sentir ínfima diante da imensidão escura. Tão segura de si, tão bela, tão minha.
"- Me leva pra casa" - Ela me estendeu seus braços esguios e pequenos.
Eu a peguei no colo e fomos dormir. Ela puxou seus cabelos que arrastavam pelo chão e enrolou-os em meus ombros, sorrindo demoradamente pra mim. Deitou-se no meu ombro e beijou inocentemente meu pescoço. Daquele jeito parecia tão criança, tão infantil. Ela gostava de saber que era assim que parecia pra mim. Um misto de amor de mulher e de filha, de mãe e de amante. A sabedoria de anos em um corpo de criança, a displicência e depudor que passava na voz e ela adorava fazer isso. Deitei-a na cama grande demais pra seu corpinho e ela pediu-me para deitar junto à ela. Aconchegou-se junto ao meu corpo, olhou nos meus olhos e encolheu-se para dormir. Eu não resisti.
"- Me conta uma história..."
Ela me olhou do jeito que as mães nos olham quando a gente lhes faz um pedido irresistível.
"- Quando eu te levar pro céu junto comigo, todas essas histórias vão fazer sentido, você vai ver..."
E eu dormi na Terra dos Sonhos, implorando pra não acordar, adorando estar entre os povos dos livros da minha infância distante.
Acordei com o cheiro da terra no quarto e um bilhete no travesseiro cheio de flores amassadas:
"Eu te amo."

5 comentários:

  1. muito bom........gostei e muito de seus textos......parabéns!

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  2. oi
    primeira vez no teu blog
    e adorando conhecer....
    gostei de td,
    abraços

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  3. Ualllll
    (de novo)

    Li todos os posts da pagina....
    Rapaz..


    Que sorte eu ter entrado naquela comu..
    amei os seus posts..

    bJO

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  4. Um texto quase etéreo.
    Gostei da maneira como a menina, no auge da sua delicada infância, parecia mais madura do q aquela q lhe ultrapassara em idade.

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