Ela se senta na cama, já passa do meio-dia. Fabrica saliva na boca seca de àlcool, desamassa o cabelo de raiz grisalha. As cortinas do quarto abafado, de tão pesadas, nem balaçam mais. Expulsara o último cliente às seis da manhã, um maldito bêbado que no fim das contas não tinha dinheiro algum."Vadio desgraçado, tomara que morra de AIDS" - pensou quando viu as marcas roxas no braço.
Levantou, enrolou-se no chambre de seda gasta, acendeu o último cigarro e chutou o gato. Tão desgarrada na vida, tão mal-humorada.
Respirou fundo, olhou pela janela empoeirada da cozinha.
"Maldita chuva." - Sorriu ironicamente através da pele de linhas fundas de desgosto.
A maquiagem borrada, os resmungos para o nada, os tamancos cor-de-rosa, os antidepressivos de cima da pia. A moldura perfeita da decadência.
Lá embaixo, crianças voltavam da escola embaixo de capas de chuva e sombrinhas multicoloridas.
"Malditas crianças. Um dia crescem e acham que podem mudar o mundo. Mal sabem, mal sabem..." - Limpa uma lágrima do canto do olho, se dobra pra traz e ri sonoramente.
"...Malditas crianças."
Olá. Gostei muito da divagação. Tem bem o estilo que gosto de ler e, às vezes, escrever. Estou gostando do blog. Abraços.
ResponderExcluirO fim do poço é nós mesmo quem construímos, quem traçamos. Bom seria, se todos pudessem ser eternas crianças: o mundo seria tão mais colorido.
ResponderExcluirMalditas crianças... =)
ResponderExcluirmto bom o post! parabéns
Ótimo post!!
ResponderExcluirDecadente, trágico, boca e coração secos.
Adorei!
Caramba...gostei mesmo deste post muito bom
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