13/07/2007

Ne me quitte pas


Por mais que eu tente não ser assim, por mais que eu tente não ser má e vingativa eu insisto em tentar machucar, em tentar enfiar a faca até o final, em tentar fazer com que as pessoas regurgitem todo o sangue, toda a desgraça, tudo o que sentem, todo o ódio enterrado e cicatrizado que eu insisto em remexer. Eu não me contento com o "tudo bem", eu não me contento com o "esquece". Eu quero a verdade, e quero toda.

E por mais que eu tente não me apaixonar, mais beleza eu vejo nas pessoas, nos corpos semi-nus que andam pelas ruas, mais encantada eu fico pelas histórias, pelos gestos, pelos timbres de voz. Mais suscetível eu me torno, mais estupidamente romantica, mais vulnerável eu me sinto. Onde estão as barreiras? O muro que eu construí? A armadura de ferro que eu moldei pra mim?

E por mais que eu peça para o escuro do meu quarto não me presentear com pesadelos reais, mais eu vejo olhos assustadores me visitando durante o sono, mais problemas enfrento, mais barreiras tropeço, mais agulhas engulo, mais gatos me odeiam, mais pessoas eu machuco.

E por mais que eu tente enterrar sentimentos passados, mais rasa a cova fica, mais vezes por dia eu afundo meus dedos na terra fofa e úmida para ao menos ter o prazer de tocar a dor, de sinti-la entre minhas mãos, fria, ardente, pulsante, crescente.

E por mais que eu tente não sugar todo o afeto, todo o calor das pessoas, por mais que eu tente não amá-las eternamente por uma noite, por mais que pra mim o amor seja um grilhão sagrado, uma mordaça divina, um adereço de tortura medieval sacramentado pelos sacerdotes lunares, por mais que doa, eu não consigo me desviciar, não consigo me soltar disso, me distanciar do sofrimento, da lágrima, do cinza, do vermelho que vejo quando minha cabeça grita. Eu sinceramente nem sei se quero. Eu amo, e amo de corpo inteiro.



Nessa noite de frio, não me deixe falando sozinha, não me deixe enlouquecer com uma faca em punho, girando-a ameaçadoramente próxima ao seu peito.
Não me abandone, não me deixe, não me esqueça.
Defina-se. Me ame.

2 comentários:

  1. muito legal seu blog!
    to lendo aki!

    t+

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  2. Essa imagem me lembrou Goya, conhece?

    Seu texto tem sintomas de histeria. Na psicanálise, pessoas histéricas são aquelas q fogem dos seus desejos. Claro, q todos nós, negamos e nos apartamos de certas vontades durante toda a vida. A histeria é o desejo abortado q se torna patológico e debilitante, ainda q o sufuco por isso gerado seja ignorado ou ultrapassado por quem o sofre.

    Quem nunca foi histérico, um dia o será.

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