25/07/2007

Like a Dreamer


Por um momento eu quase acreditei que ela estava lá porque me amava. Ela pegou minha mão, sorriu muito espontaneamente e me puxou para a rua.
-Vamos! A gente vai chegar atrasados!
E eu com uma cara de idiota, olhando pra ela, linda naquela roupa acinzentada, combinando com seus olhos. A Paula não me amava, eu sabia disso. Ela me puxou através da chuva até o ponto de táxi. Uma chuva fria e fina caía insistentemente. Eu não queria ir.
- Vem, vamos pra casa, eles nem vão notar que a gente não foi.
Ela me olhou com ar de reprovação por um momento. A Paula gostava muito da aniversariante. Eu gostava muito da Paula, gostava muito da minha cama e gostava muito mais da Paula, na minha cama. Eu caprichei no beiço pra convencer ela.
- Tudo bem, foda-se a pizzaria, vamos ficar em casa e assistir um filme.
Ela era linda. Não me importava que não fosse minha, mas naquele momento ela era. Voltamos pra minha casa, tiramos os calçados molhados. Ela queria tomar café. Ela adorava café e eu adorava o café dela. Fui tomar um banho quente, eu estava congelando!
- O café tá pronto. - Ela parou na porta do banheiro.
Ela segurava a xícara quente com as duas mãos, próxima ao rosto, emoldurando-o pelo vapor do café perfumado. Eu abri o box. Ela me olhou com um sorriso.
- O café pode esperar...
Ela colocou a xícara na mesa próxima, tirou a roupa muito despreocupadamente, soltou os cabelos alaranjados e entrou no banho comigo. Eu a amava. Sim... E a queria. Muito.
A pele macia do rosto dela roçando no meu queixo, a proximidade íntima com que ela me olhava, o vapor da àgua quente confortando nossos corpos... Aquilo tudo me parecia bom demais pra ser verdade... E era.
A minha cabeça era uma profusão de pensamentos incessantes, teorias incabíveis e verdades inquestionáveis. Pra mim as coisas nunca funcionavam como deveriam ou sempre funcionavam ao contrário de tudo o que eu sempre planejei. Eu não queria que aquilo acabasse. Eu queria que ela fosse minha pra sempre. Meu medo era de acordar de repente, e então ela ser só um sonho.
Fomos olhar um filme depois do banho. Um filme desses da Sandra Bulock em que ela sempre acaba se metedo em confusões amorosas já muito manjadas. Então, lá pelas tantas, a Paula me olhou como se fosse dizer algo qualquer. Tomou ar.
- Eu te amo.
E eu fiquei olhando pra ela, ali sentada do meu lado, com aquelas roupas muito largas que eu tinha lhe emprestado, tão fora de contexto, distoando tanto de todo o resto, e ela se virou pra continuar olhando o filme e comendo as pipocas.

E eu ri...

Porque eu decididamente ia acordar a qualquer instante...

6 comentários:

  1. Em relação ao cansaso que sinto, por mais difícil que seja admitir a culpa é só minha.
    Deixei a vida ir em frente de certo modo sem mim, e a única coisa que posso fazer é mudar.
    Estou tentando e você percebe que não é tão complicado.
    A mente humana me enlouquece.
    Já tentei satisfazê -la mais sua fome é inesgotável.

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  2. Lindo! Simplesmente o melhor até agora! Breve, tocante, sexy, verídico e até mesmo um pouco lírico. Sério mesmo, adorei. E o final é torturante!

    abraços, moça.

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  3. Ah, já ia esquecendo! Adorei as fotos dos últimos posts!

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