05/09/2007

Luz morna e Saudosismo

A casa vazia, a poeira sobre os móveis. Ela pega sua xícara de chá e bebe lentamente ao olhar através da vidraça antiga o pobre jardim abandonado. Há muito que não ia àquela casa, tão cheia de vida quando ainda havia amor. Quando ainda havia alguém.
Lembrava-se de quando a casa ainda lhe parecia gigantesca sob os pezinhos em sapatos pequeninos. Lembrava-se do cheiro do leite quente que a ama lhe levava toda manhã, lembrava-se da sensação de andar pelo jardim ao anoitecer e de como lhe assustava o fato de poder perder-se naquela imensidão. Lembrava-se saudosa das conversas solitárias com as flores da janela, de como ela lhes segredava histórias inventadas, de como elas pareciam entender seus sussurros de criança. Lembrava-se da água cristalina jorrando farta da fonte de mármore, e de como gostava de observá-la da janela do quarto. Sentia saudades do calor da lareira e de como os cães deitavam-se aos pés de seu pai quando ele lia seus grossos livros de filosofia na poltrona alta. Sentia saudade do perfume dos cabelos longos de sua mãe e de como ela se arrumava elegantemente antes de cada jantar, sempre vaidosa.

Agora tudo se fora.

Já não havia mais ninguém lá.
Nem o sol do fim da tarde penetrando as janelas altas traziam algum calor àquele lugar.
Uma casa vazia. E agora era dela.

E ela, saudosa dos tempos de criança, se dava a chance de ser feliz sozinha novamente, como fora há muito tempo.Ela e ela mesma, nos seus sapatos pequeninos e seus sussurros de criança.

Um comentário:

  1. Me lembrou cenas do filme "A Grande Ilusão"...

    Gostei desse verde tão verde no layout. Bonito mesmo, enche os olhos.
    :D

    Bjo!

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