05/08/2007

Os Embaços de Sábado à Noite...

Eu me escorei no balcão do bar cheio de gente com um copo de vinho vagabundo em uma das mãos. A minha famigerada ex-futura acompanhante já havia ido pra casa ha algum tempo, com um quase coma alcoólico. Frio glacial, companhias duvidáveis, bebida ruim, música pior. "Maldita noite que eu escolhi pra sair de casa".
Eu larguei minha cabeça cansada na outra mão enquanto olhava diretamente pro fundo do copo quase vazio. "Nunca mais saio de casa dependendo dos outros". Olhei panoramicamente para o bar. Alguns jogando sinuca, bebendo cervejas sem gás e que só não estavam quentes porque o frio não deixava. Alguns fumavam cigarros baratos, mentolados, fedidos. Pessoas pagando de modernas dançavam (?) ao som de Beattles. "Muito moderno isso, muito moderno". Fechei a jaqueta com as mãos quase congeladas. "Vinho miserável que não pega". Eu queria aquele calorzinho nos ombros, aquela leve tontura das bebidas fortes e, no entanto, tudo era tédio.
Ele me olhava quando eu o percebi. Bonito, razoavelmente bem vestido, copo de cerveja na mão. Atravessou o salão pequeno cheio de pessoas na minha direção. Escorou-se muito estilosamente no balcão ao meu lado e piscou demoradamente antes de tomar ar.
- E aí gãta... Tah acumpanhadã?
Quase vomitei com o bafo ébrio que vinha dele.
- Tô. - Definitivamente, qualquer coisa era melhor que a companhia daquilo.
- Põ, que penah... A gentch pudia curti e tal... - Quase caiu em cima de mim, trêbado.
- Sem chance... Vai lá ó. - apontei pra uma loira chapada escorada no canto da parede. - Ouvi dizer que ela tá afim de um cara que nem tu. Vai lá tigrão, pega a loiraça. - Pisquei pra ele. Ele riu aquele riso insano, típico de longas noites etílicas. Foi trôpego em direção à coitada. Caiu no meio do caminho próximo à algumas cadeiras de plástico e por lá ficou, atirado.
Peguei minha bolsa tentada a ir embora, olhei em volta. Tédio. Três horas da manhã, não havia mais carona, não tinha dinheiro pro táxi, não havia ônibus. De repente me senti tentada a ligar pro meu pai ir me buscar. Me senti tentada pela voz dele gritando no meu ouvido por ter feito ele acordar naquele frio, àquela hora só pra ir me buscar. Pelo ar quente de dentro do carro. Pelo frio da minha cama. Pelo cheiro de roupa lavada do meu pijama do Mickey contrastando com o fedor de cigarros dos meu cabelos. Peguei o telefone, liguei, falei, ouvi. Estava feito, agora era esperar.
Quase virei picolé esperando ele chegar. Ele fez aquilo de propósito. Esperar. Ele sabe que eu odeio esperar. Entrei no carro e ele nem me olhou.
-Desculpa pai, juro que não foi culpa minha... - Eu parecia uma criança de 5 anos tentando explicar o porquê de derrubar a tigela do pudim de domingo no chão.
Ele dirigiu até em casa sem falar nada. Desci do carro, entrei na casa morna e silenciosa, minha mãe estava acordada.
- Que que houve?
- Esses teus amigos hein... - Ele entrou logo atrás de mim, trancando a porta. - Sempre te deixando na mão...
Foram dormir. Eu fui pro meu quarto, tirei a roupa, coloquei o pijama, arrumei a cama para dormir. Deitei insone e gelada entre os cobertores àsperos. Eu era uma massa disforme de aparência irônica abaixo de zero.


Definitivamente nunca mais saio de casa dependendo dos outros.

3 comentários:

  1. Já passei por tantos sábados a noite tediosos, que a eu sempre me senti melhor do meu lado, do que dos outros.

    ResponderExcluir
  2. A circunstância foi diferente, mas eu estava justamente hj a dizer a mesma coisa.

    ResponderExcluir
  3. sair dependendo dos outros é bem triste.

    mas a gente tem que passar por uma dessas.......

    afinal, noites melhores sempre vem...

    ResponderExcluir