17/08/2007

Influenza, Dor nas Costas e Filosofia Barata

Acordei em meio àquele emaranhado de cobertores macios e perfumados, com uma vontade de não levantar. O despertador já estava com uma rachadura no visor de tanto levar porradas gratuítas nas manhãs de mau-humor. De tanta violência nem mais fazia aquele barulhinho irritante tão vigorosamente. Resolveu definitivamente fazer greve de não me atrasar, já que os tapas de mão pesada lhe diziam "Só mais cinco minutinhos...".
Olhei para o teto azulado com os primeiros raios discretos da manhã sem sol e resolvi que iria adoecer aquele dia.
Levantei-me em uma ar de 12ºC no meu quarto polar, coloquei os pés sem meias no chão de gelo e impliquei-me o dia inteiro a pegar uma boa gripe.
Saí sem casaco pesado, peguei chuva e vento na rua. Como trabalho em uma clínica médica, não foi difícil achar algum idoso com ares de múmia e encatarrado de tuberculose para dar um efusivo abraço apertado e simpático.
Cheguei em casa, tomei banho e lavei os cabelos, fui umas duas ou três vezes na rua para me certificar que pegaria bastante frio e vento.
Deitei ainda de cabelos molhados na umidade quente do travesseiro perfumado e me entreguei à mãe Influenza para acordar de nariz congestionado, dor no corpo, dores de cabeça, tosse e febre. Sonhei com um Hospital atopetado de gente com doenças infecciosas, com as quais eu conversava e abraçava. A Sinfonia dava o tom através dos pigarros, tosses e espirros. Que maravilha!!!

Hoje faz mais ou menos quatro dias que me entreguei à tarefa de me sentir humana na sua simplicidade.
* Diagnóstico médico (dos familiares com seus chás milagrosos que não possuem registro na Secrearia de Saúde ou Inspeção Sanitária):

- Sinuzite;
- Dor de cabeça;
- Dor no corpo;
- Estado febril;
- Espirros;
- Tosse.

Ou seja:
GRIPE!

Não vou fazer esforço algum pra me curar, porque preciso disso, preciso dessa doença.
Preciso me lembrar que as coisas são perigosas em sua totalidade, usando meus olhos reais. Os olhos da realidade dura e ríspida, que nos mostram o quanto somos frágeis.
Preciso sentir dor, preciso sentir essa dor. Preciso porque senão esqueço que sou de carne e osso, que não sou só coração, mas razão e corpo físico, real e perecível.
Preciso disso tudo porque senão esqueço quem sou.
Esqueço que sou frágil.
Esqueço que sou humana.

Um comentário:

  1. hahaha!
    ai ai ai, menina!

    interessante a sua experiência, sendo sua própria cobaia existencial.

    lembrou-me de uma professora de parasitologia que fazia doutorado em amebas, ela também tentou contrair seu objeto de estudo de todas as formas, e não conseguiu.
    ^~

    bjo!

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