22/04/2010

Amarelo-Ouro

Estávamos sentados na calçada, jogando conversa fora no silêncio de uma madrugada de semana. E eu estava ali, olhando praquele risco amarelo-ouro de fora a fora do céu de mais um dia que nascia.
- Há de ainda existirem mulheres que se apaixonem apenas pelas belas palavras? - Ele também olhava o risco de sol.
- Sim, e haverão de se apaixonar também pelos cenários e pelas provocações. Ou os poetas estariam lascados, sequer existiriam. E nem morreriam como morrem: sozinhos e muito novos, torpes nos amores que viveram, se desfizeram e foram embora. E nem morreriam assim, sentados na calçada divagando sobre as mulheres que perderam, nos amores carnais que desfrutaram, nas paixões de puta, de bebida, cigarro e loucura, não lembrariam-se da embriaguez dos sentidos, desse estado febril de paixão desenfreada pela vida, dessa filosofia herege de seguir os instintos, sozinhos. Então há sim de haver mulheres para esses homens ou então não haveriam poesias nem poetas.
(...)
- Ainda acha que se apaixona fácil demais pelas pessoas?
- Não, só achei apropriado divagar sobre isso. - E fui embora antes que também morresse ali, na calçada: Porque parte de mim é mulher e parte de mim é criança. Porque parte de mim chora poeta-puro e parte de mim não acredita em poesia.



E isso é tudo o que eu tenho.

3 comentários:

  1. Todos somos bipolares no amor, ha quem viva romances utópicos e quem tenha o pé no chão constantemente levando a razão sempre num conceito mais acima do normal. Mas é bom ao menos ter em mente que o amor existe.
    Gostei do texto. Parabéns!

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  2. Éramos duas até eu expurgar da minha vida pra sempre a poesia.
    Não faz dez minutos.. :/

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