19/01/2012

Mind fever

Acordei relutante às quatro da manhã ainda enterrada entre os travesseiros da cama. Me sentei ainda de olhos fechados, ciente demais de estar desperta sabendo que meu corpo lutava com meu cérebro e implorava silencioso pra ficar mais um pouco na cama.
Fui até a janela da sacada e a noite estava morna como há muito tempo eu não sentia. Nenhum vento. Eu estava sozinha.

Ah... como eu gostava da cidade assim, suspensa, com todo o farfalhar de folhas de árvores que de onde eu estava apenas conseguia imaginar balançando-se junto ao breu. As ruas, iluminadas com as lâmpadas amareladas que eu consigo gostar de um jeito estranho e nostálgico, estavam vazias como se o tempo não existisse. Parecia que se eu decesse as escadas rápido o suficiente, poderia dançar livre nas ruas asfaltadas ainda mornas do dia cheio, em meio àquela sinfonia noturna e silenciosa.

E eu dançaria num enfunar infinito de tecidos de saias rodadas, e a única coisa que eu ouviria seria minha respiração entrecortada de liberdade. Dançaria em círculos com os braços muito abertos, com os olhos muito fechados, com a boca seca de excitação, com os lábios presos em um sorriso sincero e inabalável. Eu nunca me cansaria.



Resolvi voltar para a cama na esperança que ela ainda guardasse o molde do meu corpo. Uma nota azul já despontava no horizonte e em breve eu seria inundada do calor do sol de verão e me lembraria de todas as coisas desagradáveis que teria que pensar quando fosse "um novo dia".
Naquele momento eu me senti muito velha e cansada e me recolhi imóvel em um canto da cama a me lamentar silenciosa por imaginar ser a única a ouvir e apreciar aqueles sons, os sons da própria terra e do mundo ressonante debaixo dos meus pés. A única em um raio de quilômetros. A única em um raio infinito de milhas náuticas.
Me pareceu por um instante que todos os anos somados de todas as pessoas que já viveram naquele pedaço de terra antes de mim, se derramaram sem cerimônia sobre as minhas costas. Meus ombros pareciam ter cedido ao peso de uma idade que eu sequer imaginava ter.

Meus olhos úmidos de inverno vagarosamente se tornando olhos áridos de verão.

Um comentário:

  1. Oi, eu sou Patricia Moraes - Rj. Eu sou muito sua fã, acompanho seu Blog desde do ano passado, e eu estou muito feliz por você te voltado a escrever. Eu amo seus textos são inspiradores, tão profundos sempre tocam meu coração. Da pra saber exatamente o que você quer dizer em cada um deles. Eu amei esse texto 'Mind Fever' tanto quanto eu gosto de um 'Mergulho no Infinito'. Eu espero realmente que você não pare de escrever, você é muito boa de verdade. Beijos, Patrícia.

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