22/06/2007

Sonho de uma noite de... Mundos Paralelos...

Eu páro, penso, fecho os olhos, inspiro o máximo que posso e as imagens começam a aparecer.

Eu, minúscula, olhando para cima, os pés num par de tênis daqueles de luzinhas piscantes, camiseta cor-de-rosa, os cabelos cacheados, loiros, olhos redondos de Boticceli, eu quase não respiro. Meu rosto é luz pura, aquela luz dos rostos inocentes. O sorriso dos dentes brancos, o hálito de leite, o perfume exagerado roubado do pai enquanto ele não via.
A sombra das rochas altas, a umidade infinita, borrifando água no meu rosto de bochechas rosadas e quentes, a deliciosa sensação do ar limpo e da àgua caindo infinitamente, o véu, o frio, o gosto dos sonhos que a gente não quer acordar. Eu amparada pela mão esquerda pela minha mãe, que superestimava simplesmente o fato de ter descido Oitocentos degraus pra ver Aquilo.
Meu pai, sorriso aberto, gotículas de àgua no cabelo escuro ainda, olha pra mim e diz:
- Não é lindo?
Eu, me sentindo pequena e livre, pulmões abertos, adorando o fato de tomar banho de "chuva" com um sol de verão, olho ao lado uma moça branca como papel, vestida de preto, cabelos vermelhos, crise de asma... Meu pulmão se enchendo de ar, eu tonta, não posso com tanto oxigênio... Meus lábios formigam, minhas mãos se soltam ao lado do corpo, meus pés se movem em direção à ela...
Os olhos verdes se fixam em mim, o hálito de vinho, o perfume de almiscar nas roupas úmidas, ela põe sua mão pesadamente sobre meu ombro, eu assustada me encolho.
- Ele não tinha esse... Direito... Eu queria... Ter vindo sozinha! Eu ficaria feliz... Se pudesse morrer aqui... Sozinha! SO-ZI... NHA!
Ela quase azul, tentando respirar ruidosamente, o corpo arqueando de forma descontrolada a cada inspiração, as costelas prendendo-a dentro do próprio corpo, os pulmões doentes, seus lábios se movendo de maneira estranha...
- Deus... Não era... Pra ser assim... Eu preciso...
Ela desmaia.
E eu, aperto muito os olhos, as lágrimas não caem, o que cai são as gotas de umidade que se acumulam no meu rosto. Preciso muito voltar para a minha mãe, para o meu pai... Pai... A névoa se adensando... As covinhas nas juntas das mãos infantis esticadas em direção a eles... A doce, a definição, distante, a tontura que eu adoro sentir, o quase desmaio...

E então solto o ar pesadamente, as mãos se abrem... Meu corpo estremece... Meu pulmão sacrificado por crises adolescentes de revolta. Dói e arde como fogo.
E estou de volta ao dia em que descobri que eu sei como é estar em um lugar em que eu não estive de verdade. Me sentindo velha, imatura e insegura.

Meu aniversário está chegando e o que eu mais quero é poder comemorar meu desaniversário todos os dias, fazendo 'x' nos dias do calendário tendo a noção real do tempo, sem cara-de-cu na minha festinha e gostando da idéia dos chapéus pontudos da Barbie. Será que é pedir muito?

3 comentários:

  1. belo texto,belo post,belo blog.


    abraço !

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  2. Adorei tbm!! Vc escreve de forma muito densa... mexe comigo isso sabe? Acho q por isso aderi às crônicas, são lights, mexem na mia mente mas naum tocam aí... tira o dedo!!! o.O
    adorei msm... surtei... vc escreve mt bem!
    Se gosta de crônicas dah uma olhada no meu!
    bju

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  3. Gostei dessa sua nota final, sobre o "desaniversário".

    E quem disse q temos q pedir de menos?

    ;)

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