18/06/2007

Meu nome é Legião...

É engraçado como às vezes eu estou no ônibus, pensando enquanto viajo, rezando pra não ser assaltada nos trechos mais perigosos (sim, eu moro longe), e me vem uma história fascinante... Sempre diferente, às vezes eu quase perco a parada perdida naqueles olhos, nos gestos do personagem. Eu quase choro com o sentimento dos seus olhos, me sentindo parte dele, que às vezes é ela. Que me atrai sempre com aquele mesmo meio sorriso de sempre, de todos os dias. Às vezes é infeliz, doce e confuso, às vezes é de uma beleza radiante, às vezes é quase morto por fora ou por dentro, por um câncer terminal ou por um amor perdido. Às vezes é criança imortal, às vezes é um velho com alma de adolescente. De vez enquando chora, de vez em quando anda perdido na chuva, de vez em quando não dorme, de vez em quando se apaixona pela carne macia e jovem de alguém que passa, de vez em quando sorri para a história comovente de um livro. Às vezes ele prefere cheiro de canela, às vezes prefere sair de casa com um cachecol velho que seu avô lhe deu. Às vezes não desce do ônibus e eu fico lá fora, olhando pra ela me dando adeus. Às vezes ela atravessa a rua e nem olha pros lado, irresponsável. Às vezes não sai de casa sem celular e relógio, vai que se atrasa, que a gasolina acabe no meio do caminho, tão neurótico.
Às vezes eu acho que são quem eu poderia ter sido, ou que eu fui, sei lá. Sinto toda a infinidade deles dentro de mim, fazendo cócegas no meu estômago, arrepiando minhas costas, soprando palavras no meu ouvido, aquecendo meu corpo no tempo cinza e frio e quase londrino. Às vezes quase posso vê-los todos juntos na beira da minha cama antes de dormir, comentando silenciosamente sobre o estado deplorável em que às vezes me deixo estar.
"Ela fez de novo..."
"Sim, e eu não a culpo, eu também era assim quando jovem. Inconsequente e inseguro."
"Quando ela vai aprender?"
"Se os céus permitirem... Nunca..."
E então eu viro para o lado, me encolho embaixo dos cobertores e numa doce semi-inconsciência peço ao meu Deus-Imperfeito que me envolva em seu lençol de estrelas e me permita apenas acordar quando a dor viciante de amar cegamente tiver passado.

5 comentários:

  1. Vc ja pensou em escrever contos?
    Se esse texto for realmente auto-biográfico, vc deveria pensar em se arriscar.
    :D

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  2. Texto fantástico.
    Vc escreve maravilhosamente bem!
    Linkei-te

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  3. Meuu.. toh virando fã jah!!
    Parabéns msm... adorei seu estilo d escrever... vou linkar nos amigos do meu blog tah?
    bjaum

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  4. o que eu estava procurando, obrigado

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