26/12/2011

The lovers

Eu conheci um garoto há anos atrás, que tinha uma cicatriz enorme na costela de maneira que a linha na forma de meia lua com as pontas pra cima, fazia uma meia volta no corpo dele. Ele tinha uma mania estranhíssima de manter o braço esquerdo sempre junto ao corpo, como uma costela extra a proteger o peito.
Descobri algum tempo depois que ele havia nascido com algum problema no coração e que a cicatriz tinha crescido com ele. Mais do que um coração frágil, no entanto, ele também era dono de uma alma frágil. E sensivel.
E eu me apaixonei pelos olhos claros e brilhantes de lágrimas dele, e pelos fios de cabelo macio que ele tinha. E pela cicatriz. Sim, eu me apaixonei pela linha rosa-claro no corpo dele, mas ele nunca tocara no assunto. E eu nunca tocara a cicatriz.
Em um dia qualquer do nosso relacionamento em que a luz do sol estava especialmente alaranjada, enquanto tomávamos banho sentados debaixo do chuveiro como duas crianças contanto histórias inocentes, ele me contou que nunca deixara ninguém tocá-la. Ele não confiara em ninguém.
No entanto, no dia em que ele me disse que me amava, ele me pediu um beijo. Estávamos deitados preguiçosamente no sofá, o dia era quente e a televisão estava passando um filme qualquer. Ele estava especialmente sensível naquele dia e conseguia ficar me olhando por horas se eu deixasse. Eu o olhei nos olhos, beijei seus lábios, seu pescoço, o ombro e então beijei a linha da costela. Afinal, então, ele confiava em mim. E repetiu que me amava enquanto eu beijava continuamente o espaço entre as costelas que ele mesmo evitava encostar. Ele me amava muito.

Mas eu não o amava. Acho que talvez nunca o tenha amado.

Dois dias depois eu o deixei. Nunca poderia amá-lo como ele gostaria e isso me matava aos poucos. Eu o queria bem, e isso era tudo.
O corte dilacerante que eu fiz no meu próprio peito por não poder amá-lo tanto quanto eu gostaria jamais superaria a cicatriz dele, mas ainda assim doeria pra sempre como se aquele coração frágil, afinal, fosse o meu.

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