20/07/2009

Declaração

Veio como uma pontada aguda no meio do meu peito. De repente eu perdi o ar e ouvi minha voz assobiar dentro do meu peito arfante. Uma segunda-feira cansativa, normal como todas as outras, meus pais abafados no sofá, olhando um filme qualquer, preocupados com alguma coisa enterrada em suas mentes, cada um de nós em seu mundo particular. Veio como uma apunhalada no meio das minhas costelas, entrecortou rápido, me tirando o ar por um espaço que eu não esperava sentir.
Descobri que tenho medo de morrer, medo da dor, do óbvio, medo de um monte de coisas. Medo do futuro, de não ter tempo (o tempo, o tempo que nunca é o suficiente), assuntos inacabados, ter medo de não ter dado abraços suficientes, beijos, palavras... De ter me deixado levar por pirraça, por bobagens e ter soterrado o que mais importava, o amor que eu sinto pelas pessoas que por mais que me machuquem eu sempre vou sentir. Eu sou burra demais pra odiar alguém pra vida inteira. Eu sempre me encontro em um beco, no escuro do meu quarto frio, abafada em um monte de travesseiros e nunca o suficiente... Digo pra mim mesmo "Eu sou uma idiota não sou? Por levar as coisas a serio demais, por observar de menos, por planejar muito, por viver pouco"
Ah meu Deus, um surto psicótico de amor absurdo por todas as coisas, por todo o mundo. Eu escreveria cartas quilométricas sem ler a frase anterior.


Wagner, seu idiota, eu te amo, e ainda que tenha me sentido profundamente machucada por tudo o que aconteceu, como uma ferida, você ainda tem um lugar aqui dentro. Isso ainda não faz você parecer menos culpado, mas demonstra o que todo mundo que fica perto de mim sabe: eu nunca te esqueci. Meu silencio ocorre sem querer... Às vezes só acho que ainda estou me recuperando de algum acidente absurdo, um baque que acabou com metade do meu cérebro aos poucos. Ainda te vejo com 7 anos, brincando aos meus pés, eu, a irmã mais velha.

Marlon. Meu beco favorito. Minha concepção de lugar seguro. Um lugar onde eu posso me esconder quando eu estou com medo. Uma pessoa que certamente acha todos os meus surtos a coisa mais assustadora do mundo. Sim, eu me importo com tudo isso, me importo com você, com seu futuro e se eu vou ter um lugar nele: como uma história, como uma mágoa, raiva, como uma piada. Queria saber o que você estava pensando quando disse que nunca amou ninguém, queria esquadrinhar cada pedaço ínfimo do seu passado pra descobrir uma só fraqueza e ter a certeza de que você é meu assim como toda a minha vida, cada pedaço meu é seu. De uma forma que só eu entendo, com os presentes que só eu dou... Todos os dias e noites eu te dou um pedaço de mim, um pedaço pequeno. A página de um livro. Um bilhete. Você já tem tudo o que eu senti até agora, se não juntar as mãos pra segurar o resto, meus pedaços irão cair no chão, transbordantes. Um ano e meio e você ainda é um ponto de interrogação piscando no fundo da minha mente. Às vezes tenho vontade de te pegar pelos ombros e sacudir: "Você está realmente aí?" - Não com raiva, mas com uma preocupação contida. Gosto de ti porque você tem qualidades. Te amo porque você tem defeitos.

Sami. Ainda penso no que poderia ter acontecido, ainda me sinto culpada por muitas coisas, ainda tenho guardadas no minimo três possibilidades nas mangas do porquê do desfecho pragmático que as coisas tiveram. Hoje eu admito pra quem quiser ouvir: "É um câncer, me matando, uma doença forte, uma tempestade, se alastrando todos os dias em mim. O que mais dói é não saber o final disso, saber quanta dor eu ainda vou sentir, quanto disso ainda vou ter que tomar. O que eu já aceitei é que vou morrer disso, por escolha. Parei com os analgésicos, pedi alta, vou pra casa conviver com tudo isso até que acabe (?)" Eu te amo com muita força. Com ciúmes, com obsessão tal que eu consegui esquecer os momentos ruins disso tudo. Eu sou uma viciada, como muitos outros que eu vejo por aí. Eu vejo os outros viciados por aí.
Sinto dor, mas não sei de onde vem. Às vezes só acho que ainda tenho alguma sanidade e que ela tenta cada vez mais desesperadamente encontrar um motivo pra disparar um alarme cada vez que eu ameaço ter uma recaída. A dor não tem fundamento, é só uma ferramenta de auto-proteção. O amor também, por isso eu acho que eu estou desenvolvendo algum tipo de autismo. Um mundo em que eu imagino coisas, uma bolha. Uma rua pavimentada de cinza, molhada com chuva em que eu olho através de uma vitrine a vida que eu gostaria de ter. A minha dificuldade é saber se eu estou olhando para dentro da loja, ou para fora do meu mundo em que eu sou a única personagem.
Eu fico preocupada quando não ouço mais falar de você, quando você foge (eu sei que ainda foge), quando as pessoas começam a te procurar. Eu estou ali, àvida pra saber mais, pra aspirar a última carreira. O resto das pessoas parecem poder esperar, você é a pessoa mais frágil que eu conheço. Me sinto chateada por não fazer parte de tudo isso, como se eu estivesse perdendo uma parte da minha vida. Eu procuro desesperadamente fatos que me garantam que você ainda vai bater na minha porta, dois dias antes do aniversário de um ano da minha primeira filha e vai reclamá-la.
Aliás, eu ainda acho que fiquei com a parte chata da festa, a parte de limpar o salão, de enviar os bebados pra casa, de limpar os copos cheios de bebida quente. Preciso ser menos responsável.
Esses dias, persegui mais de meia hora um cheiro em Porto Alegre. Porque me lembrava sua casa, seu quarto, o cheiro dos seus cabelos. Uma cópia identica que me fez eu me perder esses dias por aí. A pior parte é que isso se repete de tempos em tempos e eu realmente não sei o que eu estava esperando encontrar se simplesmente achasse a origem do cheiro;

Vô, eu te daria um bilhão de bisnetos se isso fosse fazer o senhor entender que simplesmente uma parte de mim vai com o senhor quando for embora. Ainda assim, todos os eu-te-amos, todas as fotos e videos que eu eu gravo das suas canções pra mim não parecem ser um porcento do que seria suficiente para que eu aceite que um dia todos nós vamos morrer. Que todos vamos sentir saudades, que as pessoas vão sentir saudade da gente e isso vai se repetir e se repetir. O tempo nunca é o suficiente.

Mãe e pai, crianças como eu. A diferença é que um tem o outro pra segurar as pontas quando as coisas chegam ao extremo. Já faz algum tempo que eu não me sinto mais uma parte de tudo isso, mas acho que foi de maneira natural, como se eu já esperasse por isso no fundo da minha mente. Temos que criar os filhos pro mundo. São a imagem do companheirismo, não daquela coisa enfadonha de pra sempre, mas é como eu imagino que os casais devem ser: pilares um pro outro, se um ruir, o outro está lá pra segurar.

Amo todos vocês, cada um de uma maneira diferente e totalmente nova. Tenho medo de que não entendam isso, ou entendam tarde demais. Tenho medo de vê-los mortos antes que saibam do tamanho do meu amor.
Eu tenho energia suficiente para preencher um milhão de poços, para transbordar os cinco oceanos, para soterrar todos os continentes. E isso ainda assim não é o suficiente.


O oxigênio que me mantém viva é o mesmo que me mata.


Declaro que eu realmente não to mais nem ai pro que as pessoas possam pensar disso. Com certeza não vai ser pior do que eu já penso de mim mesma.

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