09/09/2016

Um amontoado de palavras

Eu queria um texto assim: pronto. Uma historinha curta pra falar desse negócio que tem aqui engasgado, atravessado na minha garganta, pra expressar, pra explicar pra por as coisas em palavras, pra desmistificar, pra materializar, pra fazer se tornar verdade. Há quem diga que se não há em palavras não existe e se não existe a gente não pensa a respeito.

Pois bem, há de se dizer que estou cansada.

E que eu penso sim muito sobre isso. Isso existe, e não tem palavra pra isso, mas existe. Porque cansada não é a palavra. O que eu sinto é mais que isso. É pesado e dói. Canso só de pensar sobre pensar sobre estar cansada.
Dói porque eu não vejo saída. Eu não vejo saída. E isso é aterrorizantemente triste. Dói porque é triste. Dói porque triste também não é palavra grande e profunda suficiente pro cansaço que eu sinto. As palavras faltam onde todo o resto sobra. Sobra cansaço, sobra tristeza, sobra desespero, sobra dor. Dói porque tudo tem início no mesmo denominador comum, tudo tem início nos princípios da idealização e da expectativa. Na projeção, na espera depositada em tudo o que acontece ao nosso redor sobre absolutamente tudo. Sobre amor, sobre futuro, sobre outras pessoas, sobre relacionamentos, sobre escolhas, sobre decisões, sobre aproximações, sobre palavras escolhidas, sobre o que é falado mas absolutamente acima de tudo sobre o silêncio. Sobre o peso que é escolher amar. Sobre o fardo que implica ser amada. Sobre como a convivência humana é baseada num ritmo inconstante de acertos e erros e sobre como a natureza ainda implica em tentar cultivar amor no meio disso tudo. Amor químico. Amor biológico. Amor evolutivo. Amor que não cabe, amor impossível, amor platônico, amor à distância, amor que dói. Pra bom entendedor nenhuma opção parece confiável. Pra alguém cansado, tudo parece a mesma coisa. Tudo leva ao mesmo lugar: ruína e mais cansaço.
Não existem palavras pra designar o quão estúpida é a existência humana baseada em constantes tiros no escuro. Se viver é não saber e eu consigo ter tanta certeza de que não há nada fora das opções de intimidade mergulhada na tríade da projeção, ingenuidade e egoísmo, e que não há sentimento fora da sensação de me sentir um rato de laboratório, como não me sentir tão próxima desses níveis de exaustão? Como simplesmente não desistir? É como se o futuro me reservasse versões menores do que eu já vivi. Como um constante déja vu em que alguém sempre sai machucado de alguma forma, frustrado, ferido, magoado. Despedaçado, traumatizado, quebrado, dilacerado, irrecuperavelmente cético.
Eu fico triste por não acreditar mais em relacionamentos. Eu fico triste por não acreditar mais em sentimentos genuínos. Mas acima de tudo eu fico triste por querer desesperadamente voltar a acreditar e não conseguir. Por querer irremediavelmente voltar a não enxergar essas nuances, por querer inevitavelmente fechar os olhos e acreditar que as relações humanas podem ser perfeitas.

Eu desistiria de tudo pra voltar a ser ingênua.
Eu desistiria de tudo pra voltar a ser.
Eu desistiria de tudo pra voltar.


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