24/03/2016

Sobre esse animal que persegue a presa em mim

De maneira alguma nomear um problema o faz desaparecer.
A sensação ainda é a mesma, apesar de tudo o que possa parecer, de todo o nome científico-médico que isso possa ter.
É isso: eu tenho sido perseguida, vigiada, controlada à distância. Tenho me tornado levemente paranoica apesar de toda a racionalidade que me diz que isso é anti-natural. Há algum animal à solta, espreitando meus momentos de vulnerabilidade e eu sinto que a todo momento ele está pronto pra me arrancar a cabeça em uma bocada. Dilacera meu corpo, deixa os restos pros animais que se interessarem. Mas ele não ataca, parece ter qualquer prazer sádico na perseguição, qualquer prazer malicioso no meu medo. Ele ouve o que se passa dentro do meu corpo, ouve o lamento infinito do pássaro dentro de mim. E ele se interessa.
Entenda, há um pássaro no meu peito, se debatendo com força contra as minhas costelas que o prendem. E eu ouço ele trinar descompassado e baixo, um canto desesperado e breve, obstinado e louco, ouço o baque surdo do seu corpo minúsculo contra a cela apertada do meu tórax.

O animal que me persegue não só rouba o melhor de mim, mas também me faz enxergar que parece não haver espaço aqui para abrigar nenhum tipo de vida que não sobreviva contra vontade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário