28/11/2015

Every teardrop is a waterfall

A gente nasce sozinho. Chora um choro desesperado e único, de dor e medo do desconhecido. Porque nada, nada, nada mesmo nos prepara pra vida.
A gente chora a primeira infância inteira. E quando não chora, dorme. Dorme e chora até que aprenda a parar de chorar, a segurar o choro porque o choro incomoda. E a gente segue de alguma forma sozinho, se constrói na aprovação de um mundo que te diz que apesar de inteligente, teu choro é burro. Teu choro é birra. Teu choro é feio. E teu pensamento segue sozinho.
Todo mundo descobre cedo o que é ilusão. Rompimento. E tu testa as palavras dos outros e os efeitos das tuas palavras neles. Tudo segue dependendo de uma aprovação infinita, mas teu choro de medo se transforma em choro de raiva. Tu chora porque está sozinho, de uma maneira ou de outra.
O tapa no rosto vem como um raio seguido de trovão, levando violentamente da tua boca as palavras que morrem. Agora é tu sozinho mesmo, não tem choro. Tá chorando por que? Tu aprende pela segunda vez a lição do rompimento.
Porque tu cresce levando tapas que te calam. Da vida, da mãe ou da amiga. Do cara da esquina. Do teu tio. A voz [do outro] é sempre mais alta e tu está sozinho. O choro seca. A palavra cala. Tudo o que tu quer é a primeira infância de novo, aquela em que só se chora ou dorme. Porque quando tu chora alguém vem pra te dizer que está lá contigo e quando tu dorme nada te faz chorar.
Tu repensa em todas as alternativas pra voltar a dormir. Dormir parece uma boa opção. Nada te faz chorar quando tu dorme. E todos que te dizem pra não dormir parecem querer te fazer chorar. Mas te calam, porque teu choro [da primeira infância ou da última] sempre incomoda. Tua lágrima silenciosa parece falar mais do que todos os gritos e tapas e vozes mais altas.
Pela terceira vez tu aprende sobre rompimento. Mas agora, o rompimento parece querer partir de ti.


Fique assim, meu amor
Sem crescer
Porque o mundo é ruim, é ruim
E você
vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque a vida é somente
Teu bicho-papão

Se não me deixam dormir, ao menos me deixem chorar.

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