22/07/2010

Meu nome é Gabriela

Fechei meus olhos pro meu mundo para abri-los em outro.


Nesse mundo eu acordava e passava a mão no meio de cabelos que não existiam. Não me surpreendia mais em não ter cabelos, nem sobrancelhas, nem cílios, mas ainda me encomodava toda a rotina de hospital porque meus exames ainda não tinham definido nada de bom. Tinha a sensação de frustração constante, de estar nadando contra a maré. " Se é pra viver assim então prefiro morrer" foi o que eu disse ao médico quando me falou sobre os problemas que eu enfrentaria com a quimio. Mas fiz as perguntas pertinentes sobre o que seria a minha vida dali pra frente e absorvi tudo o que eu poderia usar de fuga.
Sexta sessão, meus exames são semana que vem. Existe uma enfermeira no hospital que está grávida e me diz que gostaria que sua filha tivesse olhos como os meus. Digo pra ela que não valhe a pena ter olhos de quem desistiu. Ela sorri, faz carinho no meu rosto e se senta ao meu lado em silêncio enquanto ouvimos o doce badalar do soro pingando devagar ao meu lado.
- Ela vai ser de câncer. 'Tá pra nascer em Julho, vou chamá-la de Alice. Gosta desse nome?
Eu não respondo. Penso que se eu tivesse uma filha ela teria esse nome. "Nascida em um mundo de loucos", e sorrio em uma piada interna.
Não consigo me acostumar com o enjôo constante e com as tonturas, nem com as pessoas me dizendo que eu ficarei bem. Sinto meu corpo morrendo muito mais do que antes, sinto o cheiro dos remédios na minha pele.
Pedi à minha mãe que não chorasse. Nem que gastasse um dinheiro que não tinha pra me curar. Disse que sabia que eu morreria e que pagar médicos só serviria de bálsamo mental pra ela depois que eu morresse "ao menos eu fiz tudo o que podia". Pensamento egoísta esse e ainda acho que a magoei.
Me levaram à uma reunião de apoio aos pacientes com câncer. Todos lá estavam mortos e eu também.


Mas eu acordei, pensando que não gosto de sonhar com essa garota que não sou eu.
Pensando que é mesmo muito ruim não querer mais dormir.

Um comentário: