21/12/2007

Fantasma


Sem dizer nada ela me olhou. Bem fundo, ela não só olhou, ela viu. Ela me percebeu, lá no meio daquela gente toda, vestida de cinza, eu tão apagada na multidão. Eu vi ela balbuciar alguma coisa naquele mar de gente, mas não entendi sequer uma palavra. Ela me chamou a atenção, a única que andava de cabeça eguida com ar de serenidade no meio de toda aquela gente. Todos com muita pressa, cheios de sacolas, carregando um falso espírito natalino comprado a preço de liquidação, correndo como ratos no esgoto.

Se eu esticasse o braço poderia tocar seu rosto. Neve, branca de neve. Perfume de rosas. Olhos crepitantes e velhos, olhos velhos.

Alguém bateu seu ombro no meu e eu a perdi de vista. Uma moça tão linda, de ar tão vazio... Vôou no pôr-do-sol e perdeu-se na imensidão?



E eu fiquei lá, cinza.
Fantasma.

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