17/08/2015

Este texto é sobre catarse

Então eu me apaixono. E eu me apaixono com força, me apaixono com o corpo todo. Eu caio de cama. Eu choro, eu paro de comer, eu paro de dormir, eu paro de me concentrar em tudo do mundo real e me recolho pra dentro da minha própria cabeça. E no início eu nego. Por que eu sei o que vem em seguida. Eu brigo, eu contenho. Depois eu solto, eu sorrio, eu aceito, eu canto, eu danço, eu festejo.
Então eu trabalho. Eu me aproximo mais, minha boca abre sozinha e dela escapam palavras que significam. Eu sinto vergonha, eu coro como uma menininha. Então eu envolvo a outra pessoa na minha aura passional. Eu cuido, eu zelo.
E no conforto de estar em um relacionamento eu entro num estado de calmaria. Então eu amo. Eu cuido. Mas eu me viro sozinha. Eu zelo, mas não cobro. E a outra pessoa não entende.
Porque em algum momento, na cabeça dela, ser passional e ser passiva se torna a mesma coisa.
Então há um erro de comunicação, uma falha, uma faísca, leve e surreal, quase abstrata. Mas está lá... e é ela que acende na minha mente uma revolução. Meu amor é real e leal e não exige nada em troca. Mas não se sustenta em bases limitantes. Não se alimenta de prisão. Não se baseia em ceninha ou ciúme. Eu não quero me dividir, eu quero multiplicar, eu quero que a outra pessoa cresça comigo, voe comigo. Comigo ou como for, mas não só por mim!
E então eu descubro que da mesma forma que o amor veio ele vai. E que eu consigo desprezar com a mesma força que eu me apaixono.
Então eu desprezo. E eu desprezo com força, desprezo com o corpo todo. Eu caio de cama. Eu choro, eu paro de comer, eu paro de dormir, eu paro de me concentrar em tudo do mundo real e me recolho pra dentro da minha própria cabeça. E no início eu nego. Por que eu sei o que vem em seguida. Eu brigo, eu contenho. Depois eu solto, eu sorrio, eu aceito, eu canto, eu danço, eu festejo. E acabo sozinha.



16/08/2015

Time to prune

Notar minha pele aquecendo vagarosamente até ser tomada por chamas e sentir minha nuca se arrepiar em ondas ritmadas. Dançar no que parece ser uma eterna melodia de pequenos significados. Jogar, jogar, jogar, jogar e jogar no papel de tola, e, mesmo sabendo o meu lugar, aceitar o fluxo infinito de troca de olhares que me levam... aonde?
Ouvir no fundo da minha mente um despertar, sutil, lento. Um tremor que estende sua mão macia e densa e roça seus dedos pela minha espinha acima... 



Pra apertar forte o meu pescoço e me despertar da ilusão de ser desejada.

ISSO NÃO É UM JOGO.
ESSE NÃO É TEU LUGAR.
ESSA SENSAÇÃO NÃO É REAL.





W A K E U P


13/08/2015

Call me River

Eu tive medo por tempo demais, de nunca mudar. De continuar sofrendo por amor, de chorar todas as lágrimas possíveis numa tentativa vã de drenar todo o sentimento de dentro mim, mas [estranho] não é isso que acontece, não mais.
Preciso dizer que aprendi de uma maneira muito sutil a controlar meu pior instinto de possessão. Em tempo: eu achei que eu nunca mais me apaixonaria, que nunca mais conseguiria sentir todas as sensações que me eram tão familiares, que me tiravam o ar e a fome, que mexiam com a minha cabeça de uma maneira profunda e sintomática. Mas aqui estou eu, viva e respirando, aprendendo a domar todos os sintomas, aprendendo a senti-los e a ignorá-los de maneira adequada.
Adequado. Nunca achei que poderia usar essa palavra pra descrever os sentimentos em mim, mas é isso que parece. Adequado. Controlado. Objetivo. Derrubar meus sorrisos em pequenas gotas contidas, segurar minhas lágrimas o suficiente pra não me causar desgosto, mas deixá-las sair quando me pesam demais. E pesam, porque toda mudança exige dor e energia, mas eu não me importo.
E toda mudança que exige alguma dose de dedicação vem como epifanias diárias: é quase impossível agora pensar que algum dia eu vou entrar em um relacionamento de novo; ele não vai ser feliz comigo, eu não vou ser feliz com ele; eu aprendi a exigir menos, mas isso não significa que eu esteja preparada pro que estaria prestes a vir; o mínimo desejo de possuir aos poucos extinguiria o pouco respeito que eu tenho por mim mesma; eu não vou me tornar uma intrusa; eu não preciso de alguém dizendo que me ama; eu tampouco acho que ele precise também; eu vou sobreviver, ninguém nunca morreu por causa disso; eu não vou me afastar; eu não vou embora; eu vou ser sincera com meus sentimentos;
Eu vou ser sincera com meus sentimentos mesmo que eles não me sirvam de nada agora. Mesmo que eles me arrastem a um beco sem saída, mesmo que eu saiba que existe uma dúzia de razões pra me sentir levemente rejeitada. As pessoas amam diferente, e é engraçado aprender só agora sobre isso. O mesmo tipo de amor (chame-se respeito ou o que for) que ele [nutre] por mim nunca poderia virar outra coisa, nem preencher o vazio que eu sinto toda a noite. Mas eu não sofro com isso, deus sabe que eu não sofro. Que apesar do meu corpo tentar me fazer acreditar que é do toque dele que eu preciso, eu não sofro. Eu rio. Eu acho tudo muito engraçado.
O mínimo que eu exijo de mim agora é não sofrer. E é tão bom que eu quase não me culpo por nada. É tão bom que eu realmente só me deixo levar pra onde quer que seja.
Toda a minha solidão, toda a falta que eu sinto de tudo, todo o meu desespero, toda a minha depressão e loucura, a minha falta de centro, toda a minha visceralidade e falta de lugar no mundo, ele me ajuda a superar. E esse é o máximo que eu me permito chegar perto dele.