Por mais que às vezes, raras vezes, eu sinta alguma inveja dos homens, é no mínimo interessante me dar conta que entre tantas coisas roubadas de nós, eles nunca roubarão o que nos une como mulheres.
Que essa tristeza arrebatadora, profunda e inevitável que se abate nos teus ombros de vez em quando seja compreendida e acolhida, e nunca remediada, porque é o que te faz sentir humana.
Que o estranho prazer morno e pacífico que é estar entre iguais seja projetado pra além do teu corpo humano e que seja compartilhado pelas tuas descendentes - no transporte público às três da tarde ou num banheiro de bar às três da manhã.
Que o nó que prende a tua garganta sem que haja nenhum motivo para além da mera existência tenha todos os motivos pra não durar mais do que um suspirar profundo.
Que o entendimento de que de todas as fêmeas da tua linhagem tu foi a que chegou mais longe, seja sempre motivo de orgulho mais do que um peso nas tuas costas.
Que o julgamento de ter encerrado o caminho do teu sangue, do teu transtorno mental e do trauma geracional no mundo não seja julgado com maldade ou desonestidade. E que as pessoas que realmente importam entendam que numa face da moeda há a liberdade em escolher ser mãe, e na outra face da mesma moeda reside a liberdade de mudar de opinião.
Que as coisas ás quais tu se dedica sejam jamais desprezadas, condenadas, negligenciadas, ignoradas, menosprezadas, rejeitadas ou esquecidas.
Que tu sempre descubra todos e novos motivos pra encontrar a si mesma entre mulheres, com todas as faces delas, com teu corpo, mente, coração e espírito.
Que tu consiga honrar teu sangue forte e louco, teu corpo biologicamente e perfeitamente funcional, tua mente assustadoramente desperta e teu coração tão livre.
Que isso aqui fique como uma prece, pra ti, pra mim, e pra tudo o que nos une. E o que quer que nos separe um dia, nos faça entender que como houve, sempre haverá algo que nos conecta.